Pesquisa mostra maioria da juventude fora da escola

BRASÍLIA – Os números da evasão escolar são alarmantes e representam um impacto enorme para o futuro do Brasil. Dos jovens de 16 anos, que deveriam estar no ensino médio, apenas 15% estão na escola, ou seja, 85% estão abandonando o ensino e se desqualificando para um mercado de trabalho cada vez mais especializado.

A pandemia tem um grande papel nisso, o que pode significar um efeito sazonal. A interrupção do ensino presencial que gera uma sociabilidade considerada essencial para manter os vínculos estudantis, também gerou um desinteresse pela falta de atrativos do ensino remoto. Com isso, as políticas públicas têm um papel enorme na busca ativa desses jovens.

Os dados são chocantes por demonstrarem que não se trata de um fenômeno raro no Brasil, conforme aponta a pesquisa realizada pelo Sesi/Senai (Serviço Social da Indústria/Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), em parceria com o Instituto FSB Pesquisa. O Brasil é um país prestigiado por ter uma população jovem, enquanto outras países desenvolvidos da Europa, assim como da Ásia, disputam esses trabalhadores. No entanto, é preciso qualificar profissionalmente esses jovens para um mercado de trabalho cada vez mais tecnológico.

Das pessoas que não estudam, 57% disseram que abandonaram a sala de aula porque não tinham condições. A necessidade de trabalhar é o principal motivo (47%) para interrupção dos estudos. Com isso, é preciso estabelecer políticas públicas que garantam a renda da família para que os jovens possam se dedicar aos estudos. Desta forma, é possível que a perenidade do Bolsa Família, com condicionantes e valor capaz de cobrir as necessidades básicas, seja um fator para mudança do cenário educacional.

A falta de interesse na escola também é um fator desanimador. Principalmente com a pandemia, a escola deixou de ter atratividade para os jovens. A tecnologia, e o ensino qualificado com professores estimulados e atualizados precisam ser universalizados nas escolas públicas.

O levantamento mostrou que apenas 38% das pessoas com mais de 16 anos de idade que atualmente não estudam alcançaram a escolaridade que gostariam. É preciso uma busca ativa para recuperar estes jovens para a escola.

Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para deixar de estudar é a gravidez ou o nascimento de uma criança. A evasão escolar por gravidez ou pela chegada de um filho é maior entre mulheres (13%), moradores do Nordeste (14%) e das capitais (14%) – o dobro da média nacional, de 7%. Mais um vez, o acesso às creches com condicionantes escolas é uma medida que poderia contribuir para manter estas jovens na escola.

Mesmo em regiões onde os índices sempre foram melhores, como no Sul, a fatia de jovens fora da escola representa 89% da população acima de 16 anos. As demais regiões figuram na seguinte ordem: Sudeste (86%), Norte/Centro-Oeste (83%) e Nordeste (82%).

Qualidade do ensino

O levantamento revela também que a maioria dos jovens acima dos 16 anos de idade considera que a maioria dos que têm ensino médio ou ensino superior considera-se pouco preparada ou despreparada para o mercado de trabalho. Isto está diretamente relacionado com a baixa qualidade do ensino e a crise do Novo Ensino Médio, em que os estudantes sequer têm acesso às disciplinas básicas.

Entre as pessoas que responderam a pesquisa, 23% disseram que a alfabetização deveria ser prioridade para o governo, seguida pela instituição de creches (16%) e pela ênfase no ensino médio (15%). Isto confirma a baixa qualidade do ensino que avança sem sequer alfabetizar, além da necessidade de apoio para as mães.

A educação pública é vista como boa ou ótima por 30% da população, índice que sobe para 50% quando se fala de educação privada. O nível da educação pública é tão baixo, que, mesmo a educação paga é nivelada por baixo.

Entre os fatores para aumentar a qualidade, os mais citados são o aumento do salário dos professores, mais capacitação pedagógica e melhores condições das escolas.

Pelo menos 23% das pessoas ouvidas na pesquisa avaliaram a educação pública como ruim ou péssima e só 30% a consideraram ótima ou boa. A educação privada é avaliada como boa ou ótima por 50% dos entrevistados.

O levantamento foi realizado com uma amostra de 2.007 cidadãos com idade a partir de 16 anos, nas 27 unidades da federação. As entrevistas foram feitas entre 8 e 12 de dezembro do ano passado.

BNC Educação

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