CABRAL MARQUES, TEU SOBRENOME É DE EXCELÊNCIA
GRANDE ILHA – “Isso que ficou no meu subconsciente era um pouco que eu trazia do bairro: a vontade de vencer. Eu enfrentava o que de adverso aparecesse pela minha frente; lutava, e não queria saber antes o que ia acontecer depois, salvo que eu não poderia perder.” (José Maria Cabral Marques em Memória de Professores, histórias da UFMA e outras histórias, p. 192)[1]
Deixou esta existência terrena na última quinta-feira, dia 28, um dos homens cuja história se confunde com a própria história da Universidade Federal do Maranhão: o professor José Maria Cabral Marques, também meu confrade na Academia Maranhense de Letras, onde ocupava a cadeira de número 38.
Perdem a família, os amigos, os confrades, mas, sobretudo, o Maranhão. Cabral Marques era um dos vocacionados à grandeza. Entre suas palavras — proferidas em vida — e agora seu eterno silêncio, um mundo de realizações, de gestos beneméritos, de criação e de progresso. A finitude da existência humana, de vez em quando, é desafiada pela ousadia daqueles que dela se esquecem e prosseguem com afinco. A estes, a história os brinda com seus nomes inscritos na memória de seus semelhantes e nas páginas das realizações.
Cabral Marques revelou que aprendeu cedo na vida a lição de aproveitar o tempo para se preparar para fazer bem o que tiver que ser feito. O conhecimento o abraçou como sina: formou-se em Direito, Serviço Social, Mestrado em Ciência Política e Doutorado em Direito. Faltar-me-ia espaço para detalhar seu vastíssimo currículo, pontilhado de cursos, empregos e cargos relevantes — com destaques para aqueles à frente de secretarias de Educação —, medalhas e condecorações, além de uma passagem prodigiosa em terras amazonenses.
Mas, em especial, quero ressaltar o trabalho desempenhado à frente da Universidade Federal do Maranhão, onde Cabral Marques exerceu o cargo de vice-reitor de 1964 a 1966 (na realidade, ainda na fase embrionária de nossa Universidade) e reitor, nos idos de 1979 a 1983, com uma recondução. É dele a iniciativa da determinação da obrigatoriedade de monografias nas conclusões dos cursos de nossa Universidade e dos concursos para professores. Cabral Marques tinha ideias visionárias: fez convênios com instituições estrangeiras renomadas, atraiu relevantes professores estrangeiros, investiu maciçamente em ações de extensão, ampliou o número dos cursos de graduação, criou a rádio Universidade, a Fundação Sousandrade. Aposentado, encarou o desafio de conduzir um Centro Universitário particular, e o fez com esmero e dedicação.
Afável e amante da literatura, colecionava amigos como o fazia com livros. Transitava com tranquilidade entre diversas correntes políticas e ideológicas sem criar entreveros ou atritos. Formou uma família de bem, cujos filhos e netos também se destacam em diversas posições.
Mas eis que “a morte chega cedo/pois breve é toda vida”, como lembra Fernando Pessoa. As nove décadas e um ano bem-vividos de José Maria Cabral Marques semearam bons frutos, colheram alegrias e realizações eternas. O menino batizado com dois nomes comuns à maioria dos brasileiros, nos lega o sobrenome Cabral Marques como símbolo de devoção ao saber e à edificação imaterial do conhecimento.
A ele, nossa gratidão, que, no dizer de Drummond, é uma palavra-tudo.
Natalino Salgado
Reitor da Universidade Federal do Maranhão
BNC Educação