BRASÍLIA -Para o presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Antônio Carlos Lopes, mais do que a demissão do ministro Nelson Teich o problema é a escolha de seu sucessor no Ministério da Saúde.
“Ele já entrou caído”, diz. Lopes esperava a queda de Teich, mais cedo ou mais tarde, por ele ter um perfil muito tímido, apesar de ser um nome com conhecimento técnico da área.
O ministro pediu demissão nesta sexta-feira (15) e é o segundo a deixar o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em meio à pandemia do coronavírus no Brasil. O primeiro foi Luiz Henrique Mandetta.
Suzana Lobo, presidente da Associação Brasileira de Medicina Intensiva, teme que a terceira troca de comando na saúde em meio à pandemia do coronavírus possa ter impactos negativos no combate à doença.
A gente não podia imaginar um cenário pior que esse. Um cenário [difícil] baseado em ciência já estava previsto do ponto de vista epidemiológico, mas o efeito da intervenção política não só nessa crise, mas nos tratamentos que os médicos vão usar, é temeroso”, diz.
Concorda com ela Alberto Beltrame, presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde). Em nota, ele disse que “a instabilidade e a falta de ações coordenadas e claras, neste momento, são inimigas da saúde e da vida”.
Lobo ainda ressaltou que, atualmente, a única medida efetiva e certeira contra o coronavírus têm sido o isolamento social, algo que o presidente Jair Bolsonaro também questiona.
“O impacto [da troca] vai ser que as políticas não são implementadas, perdem continuidade, nada pior do que isso agora, principalmente quando a discussão maior se baseia na tentativa de implementar forçadamente tratamentos sem base científica”, completa, se referindo à cloroquina.
O uso do remédio foi talvez o principal motivo para a saúde de Teich, que era contra sua aplicação. Bolsonaro é a favor.
Antonio Lopes vê uma série de outros fatores, alguns segundo ele desconhecidos, como determinantes para a demissão. Dentre eles está o episódio envolvendo o decreto federal que liberou salões de beleza e academias para funcionar durante a quarentena, do qual o ex-ministro tomou conhecimento ao ser questionado por um jornalista, durante a entrevista coletiva.
Para Lopes, isso deixou o ministro queimado e desprestigiado. Defensor da cloroquina, outro fator determinante para a queda de Teich, ele diz que o próximo nome a assumir a pasta precisa ser uma liderança profissional, acadêmica e para a sociedade. “Tem que ter um perfil que tenha trabalhado na linha de frente, no SUS, atendendo população”, completa.
Com informações da Folhaexpress
BNC Brasil