TÓQUIO – Se você está acostumado a ouvir falar de Pelé, Michael Jordan, Lewis Hamilton ou Michael Phelps como os maiores esportistas da história, as recém terminadas Olimpíadas de Tóquio relevaram não só mais um nome nesta lista, como, provavelmente, o maior deles.
Estamos falando do queniano Eliud Kipchoge. A vitória da maratona da Olimpíada, competição que encerrou os Jogos no último domingo, consolidou uma hegemonia jamais vista antes em qualquer modalidade esportiva.Em oito anos, venceu 15 das 17 maratonas que disputou, incluindo as das duas últimas Olimpíadas e as demais provas de renome, como as Maratonas de Chicago, Londres, Berlim e Roterdã.
É como se Michael Jordan ou Lewis Hamilton vencessem 88% dos campeonatos da NBA e da Fórmula 1, respectivamente, que disputassem.Além dos títulos olímpicos e mundiais, o queniano é o único ser humano a percorrer os 42 km da maratona em menos de 2 horas, feito conseguido na Áustria em 2019.
Embora ser dominante em qualquer esporte seja algo difícil para todos, em uma modalidade como a maratona as circunstâncias são ainda mais drásticas. É extremamente raro manter, por oito anos, o mesmo preparo físico e mental para dar conta da distância da prova. Kipchoge começou a correr maratonas em 2013, aos 29 anos. Hoje, aos 36, é o mesmo atleta ainda imbatível.
Hegemonia em esportes individuais, como o atletismo, é sempre notável e difícil de se obter. Em esportes coletivos, a responsabilidade do sucesso é dividida. O atleta pode ser eleito o melhor, mas, pelas características da modalidade, jamais poderia chegar a este nível sem o participação de companheiros e comissão técnica. Em esportes a motor, então, o fator equipamento conta quase tanto com o humano.
No atletismo, apesar, claro, de sempre haver uma equipe de apoio, a performance e os resultados dependem exclusivamente do atleta. Qualquer descuido físico ou de concentração e a vitória se perde no caminho.
E esse é o segredo de Kipchoge: consistência e disciplina. O atleta costuma treinar em uma cidade do Quênia chamada Kaptagat, a 2.500 metros acima do nível do mar. O ar rarefeito o condiciona a ter mais resistência nas provas ao nível do mar.
Todos os dias, ele percorre de 30 a 40 quilômetros nessas condições. O local de treinamento é simples e distante de agitação, quase como um retiro espiritual.
O que faz do campeão uma estrela sem ser estrela, diferente dos demais “melhores do mundo”, cercados de badalação e vigilância da mídia e dos fãs. Com tal discrição e foco, a hegemonia silenciosa do queniano parece estar longe do fim.
Por Paulo Pellegrini
BNC Esportes