SÃO PAULO – Historicamente, a necessidade sempre foi o motor do empreendedorismo no Brasil. Seja motivada pelo desemprego ou por alguma dificuldade específica, a criação de novos negócios costumava seguir a lógica da tentativa e erro, com muita determinação, mas pouco planejamento por parte dos empresários. Isso acabava “matando” muitas boas ideias logo em seus estágios iniciais. Essa realidade, no entanto, tem mudado nos últimos anos, em grande parte devido à chegada dos millennials ao mercado de trabalho.
Assim como já acontece há tempos no exterior, os empreendedores brasileiros hoje enxergam o empreendedorismo como uma carreira, situação que tem melhorado consideravelmente o nível dos projetos e atraído cada vez mais investidores dispostos a apostar nas novas soluções. “O Brasil está em uma janela de oportunidades única em sua história. Nós nunca tivemos tanta abundância de recursos para investimento de risco”, afirma Arthur Garutti, sócio da ACE, uma das maiores aceleradoras de startups do país.
Agora, com tantos bons projetos em andamento e muito capital à disposição, a pergunta que fica é: basta apenas dinheiro para que uma startup trilhe um caminho de sucesso? Para os especialistas na área, a resposta é não. De acordo com Garutti, o dinheiro aportado pelos fundos nem sempre é suficiente para, além de desenvolver os produtos, contratar profissionais experientes para todos os departamentos da nova empresa. “Daí a importância dos programas de aceleração. Por meio de mentorias com executivos de mercado, os empreendedores podem adquirir conhecimentos nas mais variadas áreas, sem qualquer custo”, diz o executivo.
Conexão
O Braskem Labs, programa de aceleração que está em sua terceira edição e já ajudou no desenvolvimento de 41 empresas de todo o Brasil, é um exemplo de parceria baseada na troca de conhecimento. “Nós não investimos dinheiro diretamente nas startups. Investimos em conhecimento, em networking com nossos clientes e apresentando boas ideias aos fundos de investimentos. Nosso objetivo é conectar empreendedores a investidores”, afirma Patrick Teyssonneyre, diretor de inovação da Braskem.
Foi exatamente o que aconteceu com Júlio Oliveto, 32 anos, fundador da Livre – Soluções em Mobilidade, uma empresa especializada no desenvolvimento de sistemas de motorização para cadeiras de rodas. Oliveto diz que teve a ideia de transformar as cadeiras em triciclos elétricos em 2009, durante o seu mestrado em engenharia mecânica, com o objetivo de dar liberdade e diversão aos deficientes. O Kit Livre, fabricado com aço carbono e que pode ser instalado em qualquer cadeira de rodas, foi patenteado em 2012, mas sua produção em série esbarrou na falta de parceiros dispostos a investir no projeto.
A história começou a mudar em 2016, quando a Livre foi selecionada para participar do Braskem Labs. A ideia inicial era modificar a estrutura do produto, mas, após uma série de mentorias e treinamentos, principalmente nas áreas financeira e comercial, além de um estudo detalhado de viabilidade, chegou-se à conclusão de que seria preciso um volume maior de vendas para justificar a mudança pensada inicialmente. Ainda assim, Oliveto encontrou o tão sonhado investidor – um fundo ligado a impacto social, e o negócio finalmente deslanchou.
“As conexões geradas dentro do programa são de grande valor. A minha empresa ficou muito mais madura depois do Braskem Labs”, afirma o empreendedor, que triplicou suas vendas desde então e hoje vende em média 40 Kits por mês. “A nossa ideia ainda é fazer as estruturas de plástico, o que será viável quando as vendas chegarem a 200 Kits mensais.” Para seguir na rota do crescimento, Oliveto deve inaugurar a sua primeira loja física ainda este ano, em São Paulo. Serão oferecidos dez modelos diferentes do Kit para diferentes tipos de uso, incluindo um desenvolvido especialmente para a prática de esportes radicais. “É uma espécie de BMX acessível. Dá para correr, pular e fazer manobras”, completa o fundador da Livre.
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