GRANDE ILHA – Literatura é remédio e resistência. É com esta síntese que Leandro Karnalapresenta “A literatura como remédio – os clássicos e a saúde da alma”, obra de autoria de Dante Gallian.
Na primeira semana de abril deste ano, na Sessão Ordinária da Academia Nacional de Medicina, na parte da programação dedicada à Literatura e Medicina, os acadêmicos foram brindados com a palestra “A literatura como remédio”, proferida por aquele autor, Historiador e doutor em História Social pela FFLCH-USP, com pós-doutoramento pela EHESS de Paris, França,e Coordenador do Laboratório de Leiturada EPM-UNIFESP.
Em sua fala, no evento – disponível na internet – o confrade Rui Maciel descreveu os benefícios do Laboratório de Leitura em alusão aos requisitos que devem ser estimulados para a formação do bom médico: a compreensão, a capacidade interpretativa, a sensibilidade e a ética.
Àquela ocasião, o nobre confrade se disse pessoalmente beneficiado pelo Laboratório. “A medicina surgiu da empatia natural do homem para com o homem, pelo desejo de ajudar aqueles em sofrimento, necessidade e doença (…) muitos educadores médicos preferem remover as qualidades humanas nos estudantes de Medicina ao invés de incuti-las, propondo uma técnica médica técnica e até fria”, afirmou. Rui Maciel prosseguiu elencando a necessidade de unir o saber filosófico, poético e artístico ao conhecimento das faculdades médicas, mencionando a importância da leitura dos clássicos para a formação do discípulo de Hipócrates.
É instigante ver a trajetória de Dante Gallian quando este descreve no livro de onde partiu até chegar ao ponto de “introduzir temáticas humanísticas e discutir a importância da formação humana na área médica” , passando pela criação do Laboratório de Humanidades no começo dos anos 2000, na EPM-UNIFESP palco de discussões entusiasmadas de estudantes do curso de Medicina acerca dos grandes clássicos da leitura universal, alcançando,
A leitura do livro oferece ao leitor a possibilidade de conhecer a trajetória do Laboratório em detalhes, bem como os (benéficos) efeitos que este tem causado em seus participantes. À guisa de conclusão, Dante faz uma comparação entre a literatura e o remédio. “Nos dicionários médicos, o termo remédio se diferencia do congênere medicamento (…) o medicamento se associa com o industrial, massivo e despersonalizado, o remédio nos remete ao caseiro, individual, pessoal. A literatura, concebida para ser a expressão e a transmissora do mistério humano, ao ser proposta como meio de nos salvar da desumanização, só pode ser concebida como remédio e nunca como medicamento’, diferencia.
Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós, atesta Kafka. Ler nos permite ver e sentir o mundo de forma diferente. Há um filme interessante que aborda essa temática. Trata-se de “O leitor”, de 2009, que traz a atriz Kate Winslet no papel da alemã Hanna Schmitz que se encanta ao ouvir os escritos de Tolstói, Dieckens e Goethe. A sua condição de analfabeta não a impede de desfrutar dos belos clássicos e a narrativa é uma comovente história de paixão pelas letras.
A obra de Dante Gallian tem o mérito de abrir uma janela de observação para esse papel terapêutico que a literatura possui, livrando almas das trevas densas da ignorância e oportunizando caminhos novos, fantásticos, inexplorados. Ratifica o que já venho discorrendo acerca do que a arte – nesta inclusa a leitura – pode fazer para legar ao jovem estudante de Medicina um olhar mais arguto, uma alma mais compassiva, um saber mais completo.
Natalino Salgado Filho
Professor Titular da UFMA e membro das Academias: Nacional de Medicina e de Letras do Ma.