Jovens adultos que sofrem com enxaqueca têm mais chances de sofrer um AVC, aponta pesquisa

SÃO PAULO – Fatores não tradicionalmente associados ao aumento de risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC), em especial a enxaqueca, podem estar associados ao aumento das chances de desenvolvimento de AVC em jovens adultos. É o que indica novo estudo divulgado na Circulation, revista científica ligada à Associação Americana do Coração, na última terça-feira, 26.

Tradicionalmente, os fatores de risco associados a um AVC são: hipertensão, diabetes tipo 2, colesterol alto, obesidade, tabagismo, sedentarismo, uso excessivo de álcool, histórico familiar, entre outros. Há, contudo, fatores menos frequentes que também podem estar associados a esse fenômeno como enxaqueca, insuficiência renal, doenças autoimunes, hepatite e trombofilia.

O objetivo da pesquisa liderada por Michelle Leppert, professora assistente de neurologia da Faculdade de Medicina do Colorado, nos Estados Unidos, foi justamente descobrir quais os fatores de risco mais associados ao aparecimento de AVCs em adultos de 18 a 55 anos.

Fatores não tradicionalmente associados ao aumento de risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC), em especial a enxaqueca, podem estar associados ao aumento das chances de desenvolvimento de AVC em jovens adultos. Foto: Freepik / @yanalya

Para isso, os pesquisadores analisaram reclamações registradas no banco de seguro saúde do Colorado entre 2012 e 2019 de pessoas dessa faixa etária. A partir desses dados, eles compararam a frequência dos fatores de risco tradicionais e não tradicionais entre 2.618 pessoas que tiveram um AVC e 7.827 que não tiveram. Vale destacar que a maior parte dos AVCs analisados eram isquêmicos, ou seja, causados pela obstrução de uma artéria que fornece oxigênio para o cérebro.

No grupo mais novo, de 18 a 34 anos, os fatores não tradicionais, em especial a enxaqueca, tiveram mais destaque que os tradicionais em relação ao aparecimento de AVCs. Nessa faixa etária, 43% das mulheres e 31% dos homens que tiveram AVCs tinham um desses fatores, enquanto 33% das mulheres e 25% dos homens relataram ter alguns dos fatores mais tradicionais. Importante destacar também que nem todos os AVCs foram associados com algum fator de risco.

Na faixa etária de 35 a 44 anos, os fatores de risco tradicionais prevaleceram, sendo associados a 33% dos casos de AVC nos homens e 40% nas mulheres. Os fatores não tradicionais, contudo, seguiram relevantes e apareceram em 27% dos homens e 40% das mulheres.

Na faixa etária dos 45 a 55 anos, os fatores de risco não tradicionais apareceram de forma bem menos significativa. Estes foram estiveram presentes em 19% dos homens que tiveram AVC e 28% das mulheres. Em contrapartida, os fatores de risco tradicionais seguiram em alta, sendo associados a 32% dos casos de AVCs nos homens e 40% dos casos das mulheres.

De forma geral, o estudo constatou uma presença significativa de fatores de risco não tradicionais em homens e mulheres de 18 a 44 anos que tiveram AVC. Sendo que, quanto menor a idade, maior o impacto desses fatores.

Motivos por trás dos números

Em entrevista concedida ao Estadão, a pesquisadora Michelle Leppert, que liderou a pesquisa, comentou que um dos motivos por trás do destaque dos fatores de risco não tradicionais nos adultos mais jovens é a baixa frequência dos outros fatores nessa população. “Enxaqueca é bastante comum entre jovens adultos, diferente de doenças como hipertensão e diabetes tipo 2, mais associadas ao público mais velho. Por isso, a chance de um jovem ter um AVC relacionado a fatores como a enxaqueca é maior”, explica.

A neurologista Sheila Martins, chefe de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, vai no mesmo sentido. “Via de regra, AVCs acontecem mais em pessoas acima de 60 anos e, por isso, os fatores mais conhecidos e considerados tradicionais são mais frequentes nessa faixa etária”, diz.

Além disso, a neurologista destaca que não é qualquer tipo de enxaqueca que pode aumentar o risco de AVC, mas especificamente a enxaqueca com aura. “Trata-se de uma enxaqueca mais grave, na qual há diminuição da circulação sanguínea em uma parte do cérebro. Nesses quadros, antes das dores na cabeça, costumam acontecer alterações de visão e, eventualmente, de fala ou movimentação”, descreve.

No estudo, não foi especificado o tipo de enxaqueca relatada nos casos analisados. Há, contudo, uma sugestão feita com base em outras pesquisas, de que a enxaqueca com aura estaria mais associada aos casos de AVC.

Apesar de casos de AVC em jovens serem mais raros, a autora da pesquisa pontou a importância de jogar luz sobre o assunto. “Historicamente, os fatores tradicionais associados a pessoas mais velhas acabam recebendo mais atenção, mas fatores não tradicionais também precisam ser levados em consideração”, pontua. (estadão).

BNC Brasil

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