SÃO PAULO – A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu o registro de novo medicamento ao Cabotegravir, uma injeção aplicada a cada dois meses para prevenir a infecção pelo HIV. O aval foi publicado no Diário Oficial da União no último dia 5.
A injeção, desenvolvida pela farmacêutica GSK, tem o nome comercial de Apretude. O medicamento funciona como uma profilaxia pré-exposição ao vírus (PrEP). No Brasil, desde 2017, a estratégia é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por meio de comprimidos diários.
A terapia é destinada a determinados grupos considerados de maior risco de exposição ao HIV, como homens que fazem sexo com outros homens, profissionais do sexo e pessoas que não vivem com o vírus, mas estão em um relacionamento sorodiscordante (em que a outra pessoa vive com o HIV).
O comprimido, que deve ser tomado diariamente, é uma combinação de dois antirretrovirais, tenofovir + emtricitabina, que bloqueiam os “caminhos” que o HIV utiliza para infectar o organismo. Com isso, caso o indivíduo seja exposto ao vírus, o risco de contaminação é mais de 90% menor.
Segundo o Painel PrEP, do Ministério da Saúde, desde a implementação, até abril deste ano, 81.824 brasileiros acessaram a terapia no país – 89% pela rede pública. No entanto, mais de 22 mil deixaram de aderir à estratégia.
Uma das maiores dificuldades para o sucesso da profilaxia é justamente pelo fato de o esquema envolver comprimidos diários, o que leva muitas pessoas a desistirem a longo prazo.
Por isso, pesquisadores têm investido em novos fármacos capazes de aumentar a aderência do público-alvo, como os de longa duração, que podem ser aplicados em intervalos maiores, ou em formatos de implantes, por exemplo.
Um dos mais avançados nesse sentido até agora é o Cabotegravir, que desde julho do ano passado é indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aos países como uma alternativa mais eficaz da PrEP. Nações como Estados Unidos, Austrália e Zimbabué deram o aval recentemente ao medicamento.
Nos estudos clínicos, o Cabotegravir apresentou uma eficácia 69% maior do que os comprimidos diários para evitar a infecção pelo HIV. Ele funciona por meio de duas aplicações mensais no início, e depois uma a cada dois meses – reduzindo a frequência de 365 vezes ao ano, com os comprimidos, para apenas seis. A injeção é feita nos glúteos.
Especialistas afirmam que essa eficácia superior observada nos estudos pode ser justamente devido à maior facilidade na adesão, já que na estratégia atual é preciso que o indivíduo tenha o comprometimento diário de tomar o comprimido para garantir a proteção.
PrEP injável está no SUS?
Embora a Anvisa tenha concedido o registro de novo medicamento para o Cabotegravir injetável, isso não quer dizer que ele será imediatamente oferecido na rede pública.
Para isso, ainda é necessária uma avaliação do Ministério da Saúde para decidir se irá incorporar ou não o novo fármaco à estratégia da PrEP no SUS, e desenhar as regras para isso. Também não há previsão para ele ser comercializado na rede privada.
Porém, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já havia anunciado no ano passado que iria implementar um projeto piloto com a PrEP injetável no Brasil, uma iniciativa financiada pela Unitaid, agência global de saúde ligada à OMS. A Fiocruz é quem produz hoje a versão em comprimidos da profilaxia distribuída nos postos de saúde do país.