SÃO PAULO – A inflação voltou a ser um fantasma para os brasileiros sob a gestão Jair Bolsonaro (PL), encerrada em 31 de dezembro. Nos quatro anos de seu governo (2019-2022), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) – que é considerado a inflação oficial do País – acumulou alta de 27%, em números arredondados. A taxa exata foi de 26,93%.
O resultado final de 2022 – último ano da gestão bolsonarista – foi divulgada nesta terça-feira (10). Apoiadores do ex-presidente têm insistido que, apesar da alta, a inflação de Bolsonaro ficou um pouco abaixo do crescimento de 27,03% registrado no primeiro governo Dilma Rousseff (2011-2014).
A comparação omite, porém, que Dilma valorizou permanentemente o salário mínimo. Nos quatro anos de sua primeira gestão, o piso salarial brasileiro teve aumento real (acima da inflação). O caso mais expressivo foi o de 2012, quando o mínimo teve 14,13% de reajuste nominal, sendo 7,59% de aumento real.
Com Bolsonaro, a política de valorização do salário mínimo foi suspensa de vez, cristalizando uma tendência iniciada pelo ex-presidente Michel Temer (2016-2028). Nos três primeiros anos do governo bolsonarista, não houve um único reajuste real do mínimo. Em 2020, a correção (de 4,1%) chegou a ficar abaixo da inflação (4,3%).
O reajuste ao fim do quarto ano – de 2022 para 2023 – será real, embora o valor ainda não esteja definido. Mas esse aumento acima da inflação a ser concretizado partiu da iniciativa do governo Lula, que negociou o índice de correção com o Congresso Nacional na PEC do Bolsa Família.
Entre 2003 e 2016, nos 13 anos de governos liderados por Lula e Dilma, o salário mínimo teve aumento real acumulado de 59,21%. Conforme a Constituição, o reajuste anual do mínimo deve levar em conta ao menos o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do ano anterior, que tradicionalmente é divulgado em meados de janeiro.
Na semana passada, a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) revelou que a alta generalizada no preço dos alimentos foi um dos principais motores da inflação de Bolsonaro. Ao longo dos quatro anos de sua gestão, o então presidente viu os alimentos encarecerem, em média, 57%. A carestia foi ainda maior para produtos como a cebola (alta de 189,1% em quatro anos), o óleo de soja (164%), a batata (110,8%) e o feijão (109,8%).