SANTA CATARINA – “Não teve quem não se emocionou e chorou no hospital ao ver a situação do menino”, afirma a presidente do Conselho Tutelar de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, Camille Amorim, ainda abalada. Apesar de se deparar diariamente com casos de agressão, abuso e negligência de menores, ela ficou visivelmente impactada com a situação da criança que foi agredida pela própria mãe.
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Confira, abaixo, o relato completo e exclusivo da conselheira tutelar sobre o caso, que aconteceu no último sábado (28):
“Não teve quem não se emocionou e chorou no hospital ao ver a situação do menino. Era grave mesmo. Ele apanhou com chinelo e cabo de rodo, inclusive na cabeça, pela própria mãe. Ele tem 5 anos e conseguiu nos contar com detalhes todos os fatos. Ele me disse que tudo começou porque pediu a ajuda da mãe para ir ao banheiro. Ele queria fazer xixi e precisava que ela tirasse a calça dele. Ela disse que não iria ajudar, mas ele seguiu pedindo e ela sempre negando. No entanto, chegou um momento em que ele não aguentou e fez xixi na calça. Nesse instante, ela começou a bater nele sem parar. Primeiro, com chineladas, depois, com o cabo do rodo, inclusive na cabeça. Os médicos chegaram a suspeitar que ele tivesse sofrido traumatismo craninano por causa das marcas na cabeça. Mas, felizmente, são apenas hematomas. Mas a situação das costas da criança é inaceitável. Em algumas partes, é possível ver com clareza as marcas das tiras do chinelo.
A situação da família não é de vulnerabilidade social. A mãe é uma pessoas instruída e trabalha como vendedora em uma loja. Quem fez a denúncia foi a babá. Ela contou que não estava no momento da agressão e disse que já chegou a notar algumas marcas de agressão no menino anteriormente, mas como não parecia ser grave, nunca denunciou. Segundo ela, o menino já relatou ter tomado tapas no rosto e apanhado com chinelo outras vezes. No entanto, neste sábado, quando a mãe deixou a criança na casa da babá, ela ficou assustada com as marcas e resolveu denunciar o caso.
A mãe foi chamada ao hospital e conversamos com ela lá mesmo. Ela não demonstrou nenhum tipo de amor ou empatia com o filho, e não pareceu se preocupar em nenhum momento, apenas disse que ‘perdeu a cabeça’. Ela tem outro filho, uma bebê. Com essa, sim, ela estava preocupada. Tanto o menino de 5 anos quanto a irmã foram levados para o acolhimento. Antes, o menino passou por uma bateria de exames e está bem, apesar das marcas pelo corpo. Ele também nos disse que só voltaria para casa quando ela prometesse parar de bater nele. É muito triste!
O menino e a irmã possuem pais diferentes, mas, até o momento, apenas a avó materna pediu para cuidar do neto. Ela disse que já cuidava dele antes, mas teve um problema de saúde e, por isso, pediu para a filha ficar com o menino. Por enquanto, ele continua no acolhimento e só deve sair com guarda titulada. Sobre a irmã, acreditamos que o pai biológico deve solicitar a guarda. Mesmo que o menino retorne para a família, vamos pedir para que seja realizado também um acompanhamento psicológico. Sabemos que as marcas no corpo vão sair, mas no coração e na alma, nunca. Precisamos, cada vez mais, da conscientização dos pais para protegerem seus filhos. É fundamental também que familiares e vizinhos denunciem todos os casos de agressão.”
BATER É CRIME
Segundo o Conselho Tutelar, a mãe do menino foi presa no próprio sábado. No entanto, foi solta em seguida, na audiência de custódia. Ela vai responder pela agressão em liberdade. A equipe de CRESCER tentou contato com a Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e Idoso (Dpcami) de Balneário Camboriú, que está cuidando do caso, mas não conseguiu conversar com o delegado titular.
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A Lei da Palmada está em vigor desde 2014 no Brasil, e define “castigo físico” qualquer “ação punitiva ou disciplinar aplicada com emprego de força física que resulte em sofrimento físico ou lesão”. Os pais ou responsáveis que descumprirem a lei podem ser punidos com até 4 anos de prisão. A lei prevê ainda que a União, os estados e os municípios atuem de forma articulada na elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir a violência física e na educação de menores. Ainda de acordo com a norma, os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico devem ser obrigatoriamente comunicados ao conselho tutelar mais próximo.
Para a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo (SP), a agressão física não educa e ainda pode atrapalhar o crescimento e desenvolvimento motor da criança. “Uma criança que apanhou por andar até um local perigoso pode não querer mais andar ou ficar em pé”, explica a especialista. Além disso, quando os pais entendem que bater é uma forma de educar os filhos, eles sempre vão trocar o diálogo pela agressão física, e esse comportamento vai levar a uma geração de adultos violentos. “Uma criança que apanha constantemente dos pais pode se tornar agressiva ou totalmente passiva e insegura. Ela pode ser uma pessoa violenta, que não sabe conversar com quem discorda dela, ou incapaz de defender o seu ponto de vista”, finaliza.
Fonte: Crescer
BNC Polícia