Caso das joias: Veja as omissões e contradições nas declarações de Bolsonaro

BRASÍLIA – Desde que o caso das joias milionárias presenteadas pela Arábia Saudita veio à tona, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) buscou negar que tivesse qualquer ilegalidade e se afastar do episódio. Porém, ao longo do último mês, caiu em contradição e omitiu informações em alguns momentos. Após negar que tivesse recebido joias num primeiro momento, por exemplo, ele voltou atrás e confirmou ter recebido um presente dos árabes. Além disso, não disse que havia recebido em mãos um terceiro pacote, ainda em 2019, até o ato também ser revelado.

Veja a seguir o que Bolsonaro já disse sobre o caso e quando caiu em contradição:

4 de março

Em sua primeira declaração após o caso vir à tona, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou que tivesse cometido ilegalidades em relação às joias presenteadas pela Arábia Saudita. Ele falou sobre o caso com jornalistas em Washington, na saída de um evento de conservadores.

— Eu agora estou sendo crucificado no Brasil por um presente que não recebi — alegou.

Ele afirmou que as joias retidas pela Receita Federal seriam entregues à Michelle, mas que só ficou sabendo da apreensão posteriormente.

— (As joias) iriam para o acervo e seriam entregues à primeira-dama. E o que diz a legislação? Ela poderia usar, não poderia desfazer-se daquilo”, disse. “Eu estava no Brasil quando esse presente foi oferecido lá nos Emirados Árabes (sic) para o ministro das Minas e Energia. O assessor dele trouxe em um avião de carreira e ficou na alfândega, eu não fiquei sabendo — disse Bolsonaro.

8 de março

Dias após dizer que não tinha recebido qualquer joia, Bolsonaro contrariou sua própria primeira versão e confirmou à CNN que parte dos presentes encaminhados pelo príncipe da Arábia Saudita em 2021 havia sido incorporada ao acervo privado dele.

— Não teve nenhuma ilegalidade. Segui a lei, como sempre fiz — disse em referência ao segundo conjunto que passou pela Alfândega composto por um anel, um relógio, um par de abotoaduras, um terço árabe e uma caneta, todos da marca suíça Chopard.

Na mesma entrevista, ao ser questionado sobre os outros presentes que foram retidos na Receita Federal, ele voltou a negar que tivesse conhecimento desse conjunto de joias.

— Eu não pedi, nem recebi esses outros presentes — disse.

13 de março

A defesa de Bolsonaro acionou o Tribunal de Contas da União (TCU) para solicitar que o órgão fosse o depositário do conjunto de joias de luxo sauditas que ficaram com o ex-presidente. Na petição apresentada ao TCU, os defensores de Bolsonaro afirmam que ele não pretendia ficar com os itens.

“Em momento algum (o ex-presidente) pretendeu locupletar-se ou ter para si bens que pudessem, de qualquer forma, serem havidos como públicos”, diz trecho do texto da defesa.

22 de março

Em palestra na Flórida, nos Estados Unidos, Bolsonaro ironizou os valores em que foram estimadas as joias presenteadas pelos árabes.

— Ficamos sabendo, uma informação ainda não confirmada, que quando as joias chegaram e foram apreendidas, o que eu só descobri um ano depois, ela valia US$ 1 milhão. Quando descobriram que eram para mim, passaram a valer € 3 milhões — declarou.

Na sequência ele voltou a falar que tinha recebido parte dos presentes e questionou onde estariam os itens recebidos por outros presidentes.

— As joias que nos foram dadas de presente ficaram no aeroporto. A minha está comigo. Cadê as joias dos demais presidentes? Estão guardadas onde? No seu respectivo acervo, que pode ser na sua própria casa — disse.

23 de março

Em entrevista à TV Record, Bolsonaro disse que soube dos presentes dados em 2021 um ano depois. Ele afirmou ainda que a primeira-dama Michelle só tomou conhecimento pela imprensa.

— Minha esposa não tem nada a ver com isso — disse.

Michelle Bolsonaro durante a posse como presidente do PL Mulher — Foto: Cristiano Mariz/ Agência O GLOBO

Michelle Bolsonaro durante a posse como presidente do PL Mulher — Foto: Cristiano Mariz/ Agência O GLOBO

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