BRASÍLIA – A investigação na Caixa – uma das cinco maiores instituições financeiras do país – segue o mesmo caminho para chegar ao mesmo resultado. Nem vamos questionar a importância de se investigar a corrupção – tarefa mais do que necessária, sabemos todos. Mas vamos reconhecer que, numa mídia com gosto particular pelo escândalo e o estardalhaço, denúncias desse tipo sempre ajudam a animar o circo da política, em particular quando envolvem um governo desmoralizado como Michel Temer. Ninguém irá negar que um bom “Pega Ladrão” é sempre útil para distrair as atenções da plateia.
É bom registrar, também, o mais importante: agora se sabe que as chamadas ações de “combate a corrupção” têm o referendo, oficial, do documento que traça a Estratégia Nacional de Segurança do governo norte-americano. Ali se admite textualmente que “sanções, medidas de combate da corrupção e ações de execução empresarial – podem ser importantes para dissuadir, coagir e restringir ações de adversários”.
Mas vamos lembrar a grave conjuntura política brasileira. Temos um governo que fez da entrega das riquezas nacionais ao mercado e ao capital estrangeiro o primeiro credo de sua Bíblia política – e que terá uma vida útil de poucos meses pela frente para dar conta à tarefa.
Não por acaso, é um governo que joga o vale-tudo de quem tem pressa. A intervenção na Caixa, que tem uma óbvia inspiração nas ideias de Estado Mínimo de Henrique Meirelles & Cia, tem em vista uma mudança geral, cuja linha é desmontar um instrumento histórico de políticas públicas e oferecer o saldo ao mercado. Estamos falando da instituição de importância histórica, que administra o Bolsa Família, paga as aposentadorias públicas e financia os principais programas de habitação. Com defeitos, imperfeições de várias famílias, e mesmo diretores ali instalados por influência política, a instituição atua como um banco público que não perdeu o compromisso com o conjunto da sociedade, que é retribuir, em benefícios destinados à maioria, uma parcela dos recursos que recebe da população.
No período de 2008-2009, quando o setor privado se escondia de clientes em dificuldade, os bancos públicos elevaram sua posição no mercado em 66,7% (a Caixa cresceu 51,4%). O setor privado, enquanto isso, caiu de 63,5% para 49,2% do mercado. Por uma margem muito estreita, equivalente a 0,3%, o setor público passou a administrar uma fatia do mercado mais larga que a parcela do setor privado. Mesmo assim, foi o grande sinal de perigo para os paladinos do mercado.
Dá para entender o que está em jogo, certo?
*Paulo Moreira Leite é jornalista e colunista do Brasil 247
Fonte: Brasil247
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