SÃO PAULO – Em uma temporada na qual campeão e vice do Brasileiro foram comandados por treinadores estrangeiros, o torcedor brasileiro ainda se mostra resistente à possibilidade de um técnico de outro país na seleção brasileira, atualmente com Tite, 58.
De acordo com o Datafolha, 46% das pessoas se disseram contra estrangeiros na equipe nacional. Outros 39% se colocaram a favor de treinadores de outras nacionalidades, enquanto 9% foram indiferentes e 7% não souberam responder.
A pesquisa foi realizada entre os dias 5 e 6 de dezembro e entrevistou 2.948 pessoas em 176 municípios do Brasil. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
O ano de 2019 marcou o sucesso de um estrangeiro no comando do time mais vencedor da temporada. Em apenas seis meses no Flamengo, o português Jorge Jesus levou o clube aos títulos do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores. Nesta terça-feira (17), a equipe rubro-negra faz sua estreia no Mundial de Clubes, contra o Al-Hilal (ARS).
Esta foi apenas a segunda vez que um treinador de outro país levou uma equipe brasileira à conquista do Nacional. O argentino Carlos Volante foi campeão da Copa Brasil de 1959, reconhecida pela CBF como o primeiro campeonato nacional do Brasil, pelo Bahia.
Compatriota de Volante, Jorge Sampaoli comandou o Santos no vice-campeonato brasileiro deste ano. O argentino não comandará o clube da Vila Belmiro em 2020 e foi procurado pelo Palmeiras, que não chegou a um acordo com ele.
O sucesso de Jesus e Sampaoli no comando de suas respectivas equipes despertou reações por parte dos colegas brasileiros, incomodados com os seguidos elogios por parte da imprensa aos trabalhos dos estrangeiros.
“Sou um treinador como eles [os brasileiros], vim trabalhar. Não vim tirar o trabalho de ninguém, não vim ensinar ninguém. Também queria lembrar para os meus colegas que em Portugal já trabalhou um brasileiro, chama-se [Luiz Felipe] Scolari, um grande treinador. Foi acarinhado por todos os treinadores portugueses”, disse Jesus após vitória sobre o Grêmio, em novembro.
“Além dele [Felipão] teve Lazaroni, Abel Braga, Carlos Alberto, René Simões, Paulo Autuori. E nós treinadores portugueses, quando eles tiveram lá, tentávamos aprender e tirar alguma coisa positiva e nunca foi essa agressividade verbal que os treinadores brasileiros têm sobre mim. Não entendo essas mentes fechadas. Espero que olhem para mim como colega de profissão”, completou.
Atual técnico da seleção brasileira, Tite viu sua aprovação neste ano despencar com relação à pesquisa Datafolha de junho do ano passado, feita às vésperas da Copa do Mundo da Rússia, na qual o Brasil caiu para a Bélgica nas quartas de final.
Antes do Mundial, 64% dos brasileiros consideravam o trabalho de Tite bom ou ótimo. Agora, mesmo após o título da Copa América de 2019, somente 37% aprovam o treinador.
O gaúcho tem contrato com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) até a Copa do Mundo do Qatar, em 2022. De acordo com o presidente da entidade, Rogério Caboclo, não há a possibilidade de troca no comando até a disputa do próximo Mundial.
As eliminatórias sul-americanas começam no próximo mês de março. Com Tite, a seleção teve no ciclo pré-Copa do Mundo da Rússia seu melhor desempenho na história em eliminatórias: 17 vitórias, três empates e apenas uma derrota -85% de aproveitamento.
Da queda para a Bélgica no Mundial até a Copa América deste ano, o Brasil entrou em campo 22 vezes e teve aproveitamento de 72%. Após o título continental, porém, viu o rendimento cair: em seis partidas, venceu somente uma, empatou três e perdeu duas -contra peruanos e argentinos.
Em 2014, depois da eliminação na semifinal da Copa do Mundo de 2014 e a consequente queda de Luiz Felipe Scolari do cargo, pesquisa Datafolha –feita em julho daquele ano – mostrou que 68% eram favoráveis à nomeação de um técnico brasileiro para o comando da equipe, e 23% preferiam um estrangeiro.
Em toda sua história, desde 1914, a seleção teve somente um técnico estrangeiro. Foi o uruguaio Ramón Platero, com passagens por Fluminense, Flamengo e Vasco e que esteve à frente do Brasil nas Copas América de 1923 e 1925 -na última, os brasileiros ficaram com o vice-campeonato.
Em 2019, a CBF contratou pela primeira vez uma profissional de outro país para treinar a seleção feminina. Bicampeã olímpica com os Estados Unidos (em 2008 e 2012), a sueca Pia Sundhage, 59, assumiu a equipe após a demissão de Vadão, eliminado nas oitavas de final do Mundial da França.
Fonte: Folha
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