GRANDE ILHA – Em cada espaço, uma roda de tambor. Em cada parelha, a resposta de um batuque. No Dia Nacional do Tambor de Crioula – 18 de junho- , o Arraial da Maria Aragão, promovido pela Prefeitura de São Luís e Governo do Estado, foi transformado em um “grande terreiro” para celebrar a data, instituída em 2016. Desde 2007, a manifestação maranhense é intitulada de Patrimônio Imaterial Brasileiro, título concedido pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O quarto dia de festividades juninas foi aberto com 10 rodas de tambor, que dançaram simultaneamente em toda extensão da Maria Aragão. A celebração teve a participação dos grupos União de São Benedito (Mestre Felipe), Turma dos Crioulos, Cravo e Rosa de São Benedito, Tambor de Leonardo, Unidos Venceremos, Oriente, Maranhão (Mestre Basílio), Juventude de São Benedito, Tijupá e Aruanda.
Nenhum dos grupos usou a plataforma indicada para as apresentações dos folguedos juninos. O chão e a proximidade com o público foram as únicas exigências dos mestres e mestras de tambor. “Este dia é muito significativo, por isso estamos fazendo uma ocupação da praça. Trazer a apresentação para o chão nos recorda a origem do tambor, que foi nos terreiros. Desta maneira, levamos o público para interagir e estar o mais próximo possível dessa importante manifestação cultural maranhense”, frisou o secretário municipal de Cultura, Marlon Botão.
Segundo ele, a marca exclusiva do tambor é a apresentação no chão dos terreiros. Assim como as apresentações dos primeiros descendentes africanos que desenvolveram a manifestação. Tradição que é seguida a risca pelos herdeiros da dança, ressaltando a religiosidade dos participantes.
TRADIÇÃO
Para o presidente do Conselho Cultural do Tambor de Crioula do Maranhão, Ubaldo Martins, é exatamente a religiosidade que mantém os grupos unidos e em permanente atividade. “Hoje, as comunidades estão mais focadas em manter a existência da dança e a resistência se dá por conta, justamente, da ligação espiritual dos integrantes, que é algo bem tradicional entre os integrantes”.
Ele informa que não tem como ter um quantitativo exato dos grupos de tambor no Estado, em decorrência de cada ano surgirem novas manifestações da dança. Só na Grande São Luís, atualmente, há 110 grupos, alguns com meio século de fundação, como o da Região do Pindaré.
O presidente do tambor de crioula Juventude de São Benedito, do Bairro da Liberdade, Claudionor Calvet Pinto, também afirma que a tradição da dança tem se mantido viva por conta da crença de cada membro da comunidade. “Temos conservado o grupo passando as nossas tradições de pai para filhos. E assim, isso tem ajudado a superar crises e dificuldades na organização e manutenção do nosso tambor”, destaca.
No caso de Raimundo Miguel Ferreira, mais conhecido como mestre Raimundinho, do tambor Cravo e Rosa de São Benedito, é a paixão que motiva tanto a ele, como os demais integrantes do grupo a continuarem na manifestação. “Desde os 16 anos que participo das apresentações. Dou a vida pelo tambor e pelo bumba meu boi”, declara.
TAMBOR DE CRIOULA E SEUS MESTRES
O projeto ‘Tambor de crioula e seus mestres – Ensinando e aprendendo’, iniciativa do Mestre Paulo (tambor de crioula Mensageiros de São Benedito), teve sua primeira edição nesta segunda-feira (18), na programação junina do Arraial da Maria Aragão. Na oportunidade, mestres, mestras, coreiros e coreiras contaram suas experiências e defenderam a preservação da manifestação.
“Iniciamos hoje este projeto com o apoio da Secult, que não poderia ter começando em uma data melhor, o Dia Nacional do Tambor de Crioula. A ideia é que ele continue ao longo de todo ano para valorizar coreiros, coreiras e simpatizantes do tambor de crioula”, destacou o Mestre Paulo.
Altar montado para São Benedito, mingau de milho e manuê para quem estava presente, a programação não deixou a desejar. Todos puderam se expressar, tocar, dançar e cantar. A ação contou com a participação de mestres, donos de tambor, coreiros e coreiras de diferentes grupos de São Luís. Para encerrar, uma grande roda foi feita e todos juntos homenagearam o santo padroeiro do tambor, com muita alegria e devoção.
PROGRAMAÇÃO
Outras atrações juninas também passaram pelo arraial durante a noite de segunda-feira (18) e quarto dia de programação do São João de Todos, como a Companhia Encantar, cujo presidente, Flaviano Alencar, se disse emocionado com a performance do grupo no palco. “Nossa proposta é passar por todas as manifestações culturais do Maranhão, fazendo homenagens a todas, por isso me emociono tanto e conto os dias para chegar junho”, afirmou.
Também teve show com Marajunino, e apresentações do Boi da Baixada Capricho do Povo e o Boi Brilhoso do Sol e Mar. Na Arena do Forró, o público contou com o repertório nordestino da banda Forró Pé de Moleque e Zeca Melo.
Nesta quarta-feira (dia 20), a programação conta com a dança Country Festa de Rodeio, Cacuriá Assa Cana, Boi de Dona Zeca (zabumba), show com Gargamel e apresentações dos bois Brilho da Ilha (orquestra) e Rosa de Saron (baixada). Quem comanda a Arena do Forró é Andrezinho e os Brotos do Forró, a partir das 20h, seguido do Trio Mandacaru.
No dia 21, quinta-feira, o Arraial da Maria Aragão inicia às 19h, com Dança do Boiadeiro Gaúcho Negro, seguida de Dança Portuguesa Majestade de Portugal (Rosário), Boi Unidos Venceremos (zabumba), Show de Forró Sacode, Boi Encanto do Olho D’Água (orquestra), Boi Brilho da Liberdade (baixada), Forró do Rui Mário e Trio Mulundus.
BNC Cultura