BRASÍLIA – A prisão de Walter Braga Netto efetuada neste sábado (14), acende o alerta máximo no entorno de Jair Bolsonaro e é o maior golpe sofrido pela extrema direita desde que perdeu as eleições em 2022. Preso preventivamente por obstrução da justiça e um dos principais suspeitos de envolvimento direto na organização dos atos golpistas de 8 de janeiro, Braga Netto foi apontado em delação premiada de Mauro Cid como peça-chave no planejamento das invasões que destituiriam os Três Poderes da República.
Braga Netto é o primeiro general quatro estrelas preso na história do país. Além da prisão, a PF cumpriu mandados de buscas e apreensões em endereços ligados ao militar por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O general foi preso em casa, no Rio de Janeiro, e será mantido sob custódia no quartel da 1ª Divisão de Exército, organização militar que ele mesmo chefiou entre 2016 e 2019.
A detenção do vice na chapa derrotada de Bolsonaro em 2022 aumenta significativamente o risco de prisão do próprio ex-presidente, já que a investigação agora atinge o membro mais próximo de sua articulação política e militar.
Entre os golpistas há o receio de que personagens centrais da trama sigam o mesmo caminho de Mauro Cid e contem o que sabem aos investigadores.
A relação entre os dois sempre foi de proximidade, mas se consolidou durante o governo e, principalmente, nas eleições de 2022. Braga Netto não apenas ocupou cargos estratégicos, como a chefia da Casa Civil e do ministério da Defesa, mas também foi escolhido como candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, demonstrando a confiança mútua entre os dois. A parceria, segundo os agentes da PF, se estendeu para as discussões sobre os rumos da contestação ao resultado eleitoral, agora sob investigação.
Segundo o indiciamento da Polícia Federal (PF), Braga Netto teria participado de reuniões estratégicas que debateram possíveis medidas para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo relatos, essas reuniões incluíam membros das Forças Armadas e aliados políticos de Bolsonaro. Os investigadores acreditam que o general desempenhou um papel central na articulação de ações que culminaram nos ataques de 8 de janeiro, alinhado com os discursos de Bolsonaro que fomentavam a desconfiança nas urnas.
Outro ponto que reforça a conexão entre os dois é a insistência de Braga Netto, quando ministro da Defesa, em pressionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por uma auditoria paralela no sistema eletrônico de votação.
A relação direta do general com Bolsonaro coloca o ex-presidente sob risco crescente, uma vez que reforça a tese de que os atos de 8 de janeiro foram premeditados e contaram com apoio político e logístico de seu núcleo mais próximo. Se confirmadas as suspeitas de que Braga Netto era um dos operadores do plano, Bolsonaro poderá ser responsabilizado como mentor.
A expectativa é que os procuradores da Procuradoria Geral da República (PGR) envolvidos no caso enviem ao STF sua decisão sobre a abertura ou não de uma ação criminal contra os 37 investigados nos primeiros meses do ano que vem, permitindo que o julgamento ocorra ainda no primeiro semestre de 2025, segundo a expectativa de pessoas que acompanham o processo de perto.
Caso o procurador-geral da República, Paulo Gonet, decida apresentar a denúncia contra Bolsonaro, Braga Netto e seus aliados, o caso será remetido ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no Supremo. Inicialmente, o caso será julgado pela Primeira Turma do STF, composta por Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux, além de Moraes. Caso recebam a denúncia, todos os réus poderão apresentar suas defesas e indicar testemunhas.
BNC Política