SÃO PAULO – A deputada estadual pelo Rio Grande do Sul, Manuela D’Ávila (PCdoB), candidata derrotada à vice-presidência da República, está na Europa a convite do grupo parlamentar de esquerda do Parlamento Europeu. Saindo de Estrasburgo, na França, ela chegou à Itália para compromissos em Nápoles e Roma e conversou com a RFI direto da sede do Partido da Refundação Comunista, na capital italiana.
Manuela disse que Europa está interessada em garantir que as informações enviadas ao mundo, a respeito do que ocorre no Brasil, sejam “fluidas”. “Ou seja, que os partidos e as organizações que são solidárias conosco e que vêem as notícias do crescimento da ameaça autoritária no país compreendam como podem se somar, observando essa realidade”, afirmou.
Ela também ressaltou que Brasil pode servir como exemplo para as próximas eleições europeias. “Um tema que também desperta bastante interesse é o uso de big data e fake news, já que a Europa enfrentará uma eleição em maio para o Parlamento. Creio que há curiosidade, interesse e muita solidariedade das organizações progressistas, de esquerda, dos verdes, de centro-esquerda, com o povo brasileiro.”
A deputada também criticou o fato de que o órgão Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) tinha conhecimento das operações financeiras envolvendo a família Bolsonaro, mas não se pronunciou durante as eleições. “Esse caso concreto apenas evidencia algo que nós já dizíamos: Bolsonaro não é um ‘outsider’, ele é o mais ‘insider’, alguém que faz a política mais velha do Brasil. Com 26 anos de mandato, 26 anos de absolutamente nenhuma produção, 26 anos elegendo os filhos políticos”, afirma. “Ou seja, essa é a pior tradição da política brasileira, que vem desde as Capitanias Hereditárias, mas que se perpetua com as criação dos clãs, quer dizer, não ideias, mas famílias, gerações tomando conta do Estado brasileiro. A política velha.”
Brasil voltou ao período de antes de 1998
Manuela D’Ávila ressaltou que a esquerda brasileira terá dois grandes desafios pela frente. “O primeiro é resistir a um conjunto de reformas que serão propostas por Bolsonaro, ultra-conservadoras, como a reforma da Previdência, e que tendem a contar com o apoio da elite financeira do país de maneira muito intensa porque essa é uma agenda que interessa ao sistema bancário. Nós estaremos diante de um governo que buscará tirar ainda mais direitos dos mais pobres”, disse.
“Por outro lado, temos que garantir uma unidade política mais ampla em defesa da democracia. É preciso estarmos unidos enquanto campo para resistirmos a um projeto, resistirmos no Congresso e mobilizando a população, porque Bolsonaro anuncia de um lado um governo ultraliberal com Guedes, e de outro lado um governo ultra-autoritário e de perseguição contra a esquerda.”
Ela também lamenta que o Brasil tenha “regredido” após as últimas eleições. “Sabemos que o crescimento da extrema direita é um processo global, porque a crise do capitalismo é muito grande e o capitalismo no nosso tempo, ao que tudo indica, não tem mais compromisso com saídas democráticas para o mundo. Nós achávamos no Brasil que tínhamos diferença com os outros [países], mas todos concordávamos que não voltaríamos atrás [da Constituição] de 1988 e, ao que tudo indica, estamos voltando para trás de 1988”, declara.
Fonte: RFI
BNC Política