Olhar com lupa mostra ilhas de Boulos e Crivella em redutos de Covas e Paes

SÃO PAULO – A São Paulo da votação por zona eleitoral –58, ao todo– é uma cidade pouco fragmentada. À exceção da zona sul e de parte da zona leste, que deram vitória ao candidato Guilherme Boulos (PSOL), todas as outras regiões optaram pela reeleição de Bruno Covas no segundo turno.

Fenômeno semelhante aconteceu no Rio de Janeiro, onde, Eduardo Paes (DEM) levou todas as zonas eleitorais, na disputa com Marcelo Crivella (Republicanos).

Um cenário um pouco diferente se desenha, porém, com um mapa por local de votação e gradação de cor –ou seja, um zoom nessas regiões.

Os dados foram levantados pelo site de jornalismo de dados Pindograma, com base em informações do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre o segundo turno das eleições.

Usando dados do tribunal, do Ministério da Educação, do IBGE e do Google Maps, o Pindograma geolocalizou os locais de votação da cidade.

A seguir, posicionou esses locais na malha de setores censitários do IBGE, menor divisão demográfica possível. Os setores que não têm escolas são absorvidos pelos que têm.

O resultado disso é uma cidade com mais recortes e um mapa mais detalhado das preferências em cada região.

Em São Paulo, quando se olha mais de perto para a zona sul, percebe-se grandes regiões do candidato tucano, embora a região apareça completamente pintada de vermelho no mapa por zona eleitoral.

A explicação do fenômeno é a baixa densidade da região, que acaba não tendo peso suficiente para tornar a zona sul tucana.

No extremo sul de São Paulo, por exemplo, Covas recebeu 54% dos votos do único local de votação da região, o EE. Profa. Regina Miranda Brant de Carvalho.

A mancha vermelha ao centro da zona sul fica próxima à chamada “Tattolândia”, região de grande influência dos irmão Tatto, dentre eles Jilmar (PT), candidato derrotado no primeiro turno.

O petista afirmou um dia após o resultado que entraria “com tudo na campanha do Boulos”, a quem chamou de “irmão mais novo”.

Já entre Itaim Bibi e Morumbi, bairros de alta renda e com preferência por Covas, eleitores de Boulos pintam uma faixa do mapa de vermelho.

Ilhas do candidato do PSOL também são vistas na zona de Pinheiros e no centro. Na primeira, o tucano venceu com 65% dos votos, mas seções próximas à estação de metrô Vila Madalena (linha 2-verde), chegaram a registrar 52% dos votos em Boulos.

Na zona leste de São Paulo, a novidade fica na parte sul. Ali, na zona eleitoral de São Mateus, em que Boulos ganhou com pouco mais de 50%, Covas chegou a registrar 75% em um dos locais de votação.

A grande surpresa da cidade está na parte noroeste, zona eleitoral de Perus. O mapa por zona eleitoral, que dá 52% dos votos válidos para Covas, esconde certa simpatia por Boulos em algumas áreas, que chegaram a registrar 58,5%.

Para o cientista político e pesquisador da FGV (Fundação Getulio Vargas) Fernando Abrucio, a região é um alerta para o PSDB e uma sinal positivo para a oposição.

“Essa eleição é uma volta do voto da esquerda para padrões mais históricos. Há um aviso para o Covas: se a próxima gestão não tiver um desempenho melhor do que a atual, a cor vermelha vai crescer na parte leste e em Brasilândia, Freguesia, Pirituba”, afirma.

“Na zona noroeste, Covas ganhou. Mas se a desigualdade aumenta na cidade, abre espaço para o crescimento de quem levar o discurso da desigualdade. Na verdade já cresceu se compararmos à vitória do Doria em 2016.”

Ignorar esse tema, afirma Abrucio, pode ter consequências para o partido. “A eleição de São Paulo tem ciclos de votos. O que essa eleição mostrou foi que a força da centro-direita já passou, nós estamos parecidos com o mapa de 2008, em que o [ex-prefeito do PSD Gilberto] Kassab venceu”, completa, dando o exemplo da campanha anterior à da vitória do petista Fernando Haddad.

No Rio de Janeiro, Crivella conseguiu 60% dos votos da Escola Municipal Rosa da Fonseca, local de votação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na Vila Militar. O atual prefeito contou com o apoio da família Bolsonaro. Com alto índice de rejeição, em outubro, Crivella ameaçava não chegar ao segundo turno.

Em horário eleitoral na TV, apostou em propaganda voltada para a união com Bolsonaro, que pediu votos para o candidato do Republicanos.

O mapa mostra outro contraste perto da Ilha do Fundão, que abriga a cidade universitária da UFRJ e votou majoritariamente em Paes. Ao seu lado, partes das favelas de Maré e Manguinhos escolheram Crivella.

Olhando mais de perto a zona sul do Rio, o conjunto de favelas Cantagalo-Pavão-Pavãozinho aparece menos empolgado com o candidato do DEM do que seus vizinhos Ipanema e Copacabana, que se pintaram de verde-escuro na representação.

Já o oeste da cidade abriga Guaratiba, uma das áreas que mais apoiaram o prefeito eleito Eduardo Paes. O local está colado em Santa Cruz, bairro com grande quantidade de evangélicos. Ali, Crivella, que é bispo da Igreja Universal, teve um desempenho razoável.

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