ESTADOS UNIDOS – “O Inocente”, disponível na Netflix, é uma série de TV com ritmo de videogame, cenas chocantes de violência e roteiro rocambolesco, com várias viradas por episódio. E são oito no total, de mais ou menos uma hora cada um. Ou seja, dá trabalho assistir prestando atenção em tudo o que acontece.
Por outro lado, também dá para acompanhar sem se dedicar completamente, porque o que parece verdade em uma cena será desmentido na próxima, de maneira que perder uma reviravolta ou outra não vai comprometer o prazer e a angústia de seguir esse programa.
A história se passa em Barcelona e Marbella, no sul da Espanha, onde Mateo, interpretado pelo ator espanhol Mario Casas, um tipo estoico com corpo esquisito que serve bem ao personagem, uma noite, numa briga de balada em que entra para proteger o irmão, empurra um outro garoto que bate a cabeça em uma pedra na calçada e morre.
Mateo vai preso, acusado de homicídio culposo. Na cadeia, vira fortão e é acusado de matar outro preso, mas diz que é inocente. Quando cumpre sua pena, termina a faculdade de direito e vai trabalhar com o irmão, também advogado. Reencontra uma mulher com quem tinha passado uma noite em uma saída temporária da prisão, quando seus pais foram enterrados -os dois morreram num acidente de carro-, se casa com ela e por um momento parece que sua vida entrou no prumo.
É um breve momento. E, a partir dele, só o caos. A trama é tão inacreditável que beira o ridículo, mas não chega a tanto. Envolve freiras suicidas, freiras prostitutas, prostitutas vingadoras, prostitutas assassinas, cafetões chantagistas, homens sérios da sociedade que são pedófilos, policiais corruptos e uma policial mulher determinada e insubordinada, com instinto infalível.
Desde a detetive Sarah Linden, da série “The Killing”, que foi ao ar de 2011 a 2014, papel da americana Mireille Enos, não vemos uma policial tão instigante quanto a detetive Lorena Ortiz, interpretada aqui pela espanhola Alexandra Jiménez. Se não fosse o figurino e o cabelo, que pecam pelos inverossímeis saltos agulha e o penteado loiríssimo sem um fio fora do lugar que ela usa durante as investigações, talvez desse até para confundir uma com a outra nas memórias.
Aliás, em “O Inocente” são as personagens femininas que carregam a melhor parte da trama. Além da detetive, a mulher de Mateo, a franzina e meiga Olivia, interpretada pela espanhola Aura Garrido, vira protagonista no meio da história. E ela vem acompanhada da enigmática Emma ou María Luján, dependendo do ponto do roteiro, papel da colombiana Juana Costa, e, mais perifericamente de Kimmy Dale, interpretada pela argentina Martina Gusman.
Dirigido pelo espanhol Oriol Paulo, “O Inocente” é a quarta adaptação que a Netflix faz de livros do autor americano Harlan Coben, que, em 2018, assinou um contrato multimilionário com a plataforma de streaming e disponibilizou toda sua bibliografia para adaptações audiovisuais.
Até agora foram lançadas as séries “Safe”, de 2018, produzida no Reino Unido, com Michael C. Hall no papel principal; “The Stranger”, de 2020, também com produção britânica; e “Silêncio na Floresta”, a melhor até agora, produzida na Polônia. Em agosto, vai ao ar a produção francesa “Gone for Good”. E “Stay Close”, mais uma feita no Reino Unido, já está sendo filmada.
“O Inocente” não vai agradar a todo o mundo. Quem não gostar de ver em vários ângulos um rosto deformado por causa da violência da morte de sua dona, por exemplo, melhor nem começar. São dois os desfigurados nessa série. A velocidade da trama também pode fazer o que talvez seja a hora de relaxamento do espectador, que decide ver um pouco de TV no fim de mais um dia de trabalho e notícias ruins, mais confusa e desagradável do que seria indicado.
Mas quem for fisgado pelo mistério vai ser recompensado com muitas ideias inusitadas, personagens nuançados e bem construídos e uma viagem veloz pelo submundo criada por uma imaginação singular.
O INOCENTE
Onde Netflix
Classificação 18 anos
Elenco Mario Casas, Xavi Sáez, Santi Pons
Produção Espanha, 2021
Avaliação Bom
Com informações da folhaexpress
BNC Cultura