MONÇÃO – No topo da artilharia do Campeonato Carioca Sub-20, o Vasco é representado por um garoto de 17 anos que até o ano passado jogava futebol de várzea no interior do Maranhão. E que, nesta terça-feira, se apresenta na Granja Comary para um período de treinos com a Seleção de Ramon Menezes. Afinal, quem é Eguinaldo?
Antes de mais nada, um “meteoro”.
Eguinaldo recebeu neste fim de semana a notícia de que foi convidado para participar dos treinamentos da seleção brasileira sub-20, que disputa agora em julho, no Espírito Santo, um quadrangular preparatório para o Sul-Americano. Natural de Monção, no nordeste maranhense, ele vai ficar os próximos dias em Teresópolis.
Embora não se trate de uma convocação oficial, o convite tem a ver com o grande momento que o atacante vive na base do Vasco. Eguinaldo tem nove gols e três assistências em nove jogos disputados até aqui no Campeonato Carioca Sub-20. É o principal destaque da equipe que lidera com folga a tabela e está a um empate de conquistar o título do primeiro turno.
Descoberto no ano passado pelo Artsul, clube de Nova Iguaçu, Eguinaldo no momento está emprestado ao Vasco, que tem por contrato a opção de adquirir 70% dos direitos do atacante.
Ele também passou como um furacão pelo Artsul: foi puxado para o time principal depois de dois meses no sub-20, fez gol e cativou uma vaga entre os profissionais. Isso aos 17 anos e recém-chegado da várzea, vale lembrar.
– A gente achou que, apesar de queimar etapa, o garoto estava muito bem e resolvemos dar uma oportunidade para ele. Ele é realmente muito forte, de muito boa técnica, ataca bem os espaços e tem uma qualidade de finalização bem impressionante para a idade – conta Rogério Pina, técnico de Eguinaldo no Artsul.
“Ele é um meteoro, muito fora da curva”, completou.
Trabalho na roça, futebol aos fins de semana
Nascido e crescido na zona rural, Eguinaldo aprendeu desde pequeno a trabalhar na roça com os pais, que plantam milho, mandioca e têm algumas cabeças de gado em Monção. A vida nos dias de semana sempre se resumiu aos estudos e ao trabalho braçal com a família. “Eu ajudava eles, capinando, colhendo…”, conta o atacante do Vasco.
A história era outra nos finais de semana. Aos sábados e domingos, Eguinaldo jogava bola na várzea. Rodou a cidade-natal e as regiões ao redor disputando campeonatos. Às vezes valendo R$ 100, outras vezes valendo uma chuteira, na maioria das vezes de graça mesmo.
Todo mundo me procurava para jogar (risos).
Eguinaldo, atacante do sub-20 do Vasco, na época da várzea no Maranhão — Foto: Arquivo Pessoal
Eguinaldo queria ser jogador e teve todo o apoio da família quando a oportunidade surgiu, embora, claro, tivesse que sair da roça e viver longe dos pais. Edinaldo, o pai, morreu em fevereiro deste ano vítima de um ataque cardíaco e não chegou a ver o deslanchar do filho na base de um dos maiores clubes do Brasil.
Quando recebeu a notícia, o atacante estava em São Luís, onde embarcaria no dia seguinte com destino ao Rio de Janeiro para se reapresentar. Ele quase não voltou.
– Eu estava no domingo na capital e viajava para cá na segunda. No domingo à noite minha tia me ligou chorando, aí meu mundo desabou. Pensei em desistir, não queria mais voltar para cá, estava tudo sem sentido para mim. Não queria mais jogar – contou ele.
– Eu voltei para o enterro do meu pai, passei uma semana lá junto com a minha família, pensando bem. E decidi voltar para o Rio. Desde então minha família está me apoiando para continuar. E meus amigos também – completou.
O “meteoro”
Descoberto nos campos de terrão maranhenses por um olheiro dos irmãos Maurício Nassif e Daniel Nassif, os mesmos responsáveis por levar Anderson Conceição para o Vasco, por exemplo, Eguinaldo foi levado para um período de avaliações no Artsul no início do ano passado. Passou, ganhou um contrato de formação e começou a jogar pelo sub-20.
Com apenas dois meses na categoria, em função do destaque principalmente nos treinamentos, Eguinaldo foi puxado ao time profissional pela comissão técnica de Rogério Pina, que tinha como objetivo inicial lapidar a joia bruta que havia acabado de chegar ao clube, sem qualquer experiência de formação.
– A gente puxou ele para o profissional até para poder introduzir nele um pouco mais de trabalho, já que estava sem nenhum tipo de formação, apenas com o talento próprio. O intuito naquele momento não era nem jogar – contou Pina.
Eguinaldo, atacante do sub-20 do Vasco, em ação contra a Portuguesa — Foto: Divulgação / CRVG
Em uma das primeiras oportunidades, Eguinaldo deu assistência no gol que valeu a classificação na vitória sobre o Nova Iguaçu. Em seguida, com a contribuição da saída de Rafael Tanque (centroavante titular) para o Volta Redonda, ganhou mais espaço. Entrando no segundo tempo, depois como titular.
Cerca de seis meses depois de ser trazido da várzea no Maranhão, o atacante fez seu primeiro gol como jogador profissional: na derrota por 2 a 1 para o Madureira, pela Copa Rio. “No primeiro jogo dele a gente já viu que realmente era promissor e que havia a possibilidade de usá-lo dentro da competição”, explicou o técnico do Artsul.