RIO DE JANEIRO – Sem rumo dentro de campo, a seleção brasileira também é reflexo da política conturbada da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Mais do que uma derrota anunciada, o 4 a 1 humilhante sofrido para a Argentina – e poderia ser mais – revelou que a atual geração de atletas pouco sabe o que representa as cinco estrelas na camisa canarinho.
Alguns dos atletas convocados não eram nascidos na última Copa do Mundo vencida pelo Brasil, em 2002. A outra parte era muito jovem para guardar a lembrança. Talvez o zagueiro e capitão Marquinhos, que nasceu em 1994 (30 anos), pudesse segurar a onda dos que não sabem o que é vivenciar a vitória de uma seleção para o seu povo. No entanto, além de exercer uma liderança frouxa, o atleta não tem correspondido dentro de campo.
Mas não só o sistema defensivo é insuficiente desde a saída de Tite. Nas mãos de Ramon Menezes, Fernando Diniz e Dorival Júnior, as principais estrelas do time não brilham o mesmo tanto que em seus clubes, em especial, no ataque.
Raphinha, atacante do Barcelona, que tem 28 anos e deveria figurar na turma dos mais experientes, mostrou pouca maturidade ao atrair para si uma polêmica em entrevista ao ex-jogador e senador Romário. Ao reagir a uma provocação do baixinho na véspera do jogo contra os ‘hermanos’, o jogador disse: “Porrada neles. No campo e fora se tiver que ser”. Sem contar a falta de fair play e de noção sobre a atual fase canarinho – que iria enfrentar a atual campeã do mundo (diga-se, sem o Messi), Raphinha contratou uma polêmica imbecil e saiu mais do que derrotado de campo: foi alvo de hostilização dos jogadores argentinos.
Nesse caldo, a saída de Dorival Júnior é iminente. Ele não engrenou uma convocação sequer desde que assumiu em janeiro de 2023. Da sua escolha à sua saída ficará a marca do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, que o utilizou, assim como os anteriores, como paliativos ao sonho de um técnico de renome internacional, como o italiano Carlo Ancelotti, hoje no Real Madrid.
Inclusive, Ednaldo foi reeleito para a presidência da CBF com 100% dos votos (incluindo todos os votos das federações estaduais e de todos os clubes da Série A e B), na última segunda-feira (24). Ele chegou a ser afastado do cargo em 2023 (em imbróglio sobre sua eleição), mas agora tem um novo mandato entre 2026 e 2030. Em caso de nova reeleição depois de uma mudança de estatuto, ele poderá se manter no cargo até 2034.
Antes dele, Rogério Caboclo, eleito presidente da CBF em 2017 e com mandato até 2023, havia sido afastado por denúncia de assédio moral e sexual feita por uma funcionária da CBF. Ainda antes, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira, todos ex-presidentes da CBF, foram banidos do futebol pela Fifa por condenações que envolvem corrupção, como recebimento de propina.
Portanto, se fora de campo é essa bagunça, dentro de campo é exibido o que a seleção e o futebol brasileiro se tornaram: mão de obra barata de atletas vendidos cada vez mais jovens para a Europa. A situação cria jogadores com pouca ou nenhuma identificação com os clubes do país, assim como é campo fértil para que empresários sanguessugas se infiltrem nas diversas instâncias do futebol, sempre em busca de melhores retornos em detrimento de qualquer retorno esportivo.
Fora isso, o calendário imposto pela CBF para o futebol brasileiro, a cada ano que passa, se torna alvo de mais críticas. Por outro lado, os mesmos que criticam são os que elegeram Ednaldo por unanimidade.
Recordes negativos
Com os quatro gols argentinos o Brasil sofreu sua pior derrota desde o 7 a 1 sofrido para Alemanha no Mineirão, em 2014. Além disso, o escrete nacional não perdia por uma diferença de três gols para a Argentina desde 1961 (3×0 pela Taça das Nações).
Outro marco negativo insere esta como a pior derrota da seleção na história das eliminatórias. Para completar, nos últimos dois jogos o Brasil levou 5 gols, sendo que este foi o total de gols sofridos em toda a eliminatória para a Copa de 2022.
Com estes dados, nada indica uma Copa de 2026 promissora. E se a seleção brasileira não a vencer irá entre no maior jejum de Copas do Mundo de sua história. Entre 1970 e 1994 foram cinco edições sem vitória. Esta condição já foi alcançada (a última conquista foi em 2002), mas poderá chegar a seis edições sem o título nos Estados Unidos, México e Canadá.
BNC Esportes