
BRASÍLIA – O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quarta-feira (9) que o controle da inflação e a redução sustentável da taxa de juros no Brasil exigirão uma série de medidas estruturais, descartando soluções imediatas ou simplistas.
“Não vai ter vitória por ippon. Não vai ter bala de prata”, disse, durante audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.
Galípolo abriu sua fala questionando como o país pode alcançar juros mais compatíveis com os de outros mercados emergentes sem colocar em risco o controle da inflação.
“Como é que a gente pode conviver com taxas de juros em patamares mais próximos aos nossos pares e, ao mesmo tempo, manter a inflação dentro da meta?”, indagou.
Ele comparou o atual desafio ao enfrentado no período do Plano Real, mas destacou que, ao contrário da década de 1990, quando os efeitos de estabilização vieram rapidamente com a criação de uma moeda indexada, o cenário hoje exige respostas mais graduais.
“Naquela época, uma medida teve um impacto expressivo em seis meses. Agora, precisamos de um conjunto de ações. Ninguém quer baixar os juros com a inflação descontrolada. O objetivo é conter a inflação com uma taxa de juros mais baixa e sustentável”, explicou.
SELIC A 15% E INCERTEZAS INTERNACIONAIS
A declaração ocorre após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em 18 de junho, que decidiu elevar a taxa básica de juros (Selic) para 15% ao ano — uma decisão unânime entre os diretores e o presidente do BC.
Na ata da reunião, o Banco Central destacou que os impactos da política monetária nos Estados Unidos e o cenário geopolítico global — especialmente os conflitos no Oriente Médio e seus reflexos sobre o petróleo — justificam cautela em países emergentes como o Brasil.
O texto também indicou que, após um ciclo de alta considerado rápido e firme, o Copom pretende interromper as elevações e avaliar os efeitos acumulados sobre a inflação. As próximas reuniões do colegiado estão agendadas para os dias 29 e 30 de julho.
NOVA CARTA AO MINISTÉRIO DA FAZENDA
Durante a audiência, Galípolo informou ainda que irá enviar uma nova carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comunicando o segundo descumprimento consecutivo da meta de inflação — fixada em 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo (entre 1,5% e 4,5%).
Em doze meses até maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 5,32%, acima do teto da meta.
Para junho, o mercado projeta inflação de 0,27%, o que deve manter o índice acumulado em patamar superior a 5%.
Segundo as estimativas mais recentes do Banco Central, o IPCA só deve retornar ao intervalo da meta no primeiro trimestre de 2026.
A projeção consta no Relatório de Política Monetária divulgado na semana passada.
BNC Economia