WUHAN – Em um momento em que a maior parte das estradas em Wuhan – o epicentro do coronavírus -, na China, estão vazias e que os transportes públicos foram cortados, Zhang Lei passa o dia na estrada. Comprar mantimentos, medicamentos e levar residentes ao hospital, fazem parte da rotina do jovem chinês.
Em tempos ‘normais’, Zhang, de 32 anos, é taxista, mas desde que o governo chinês cortou todos os acessos à cidade, tornou-se num dos voluntários a ajudar no transporte de pessoas e bens.
Protegido dos pés à cabeça com um terno, uma máscara e com óculos, Zhang não tem permissão para transportar pessoas que possam estar infectadas, uma vez que essa função cabe às ambulâncias. Os seus passageiros são, majoritariamente, pobres, idosos ou pessoas que estão sozinhas porque a família está fora de Wuhan ou em quarentena.
“É de partir o coração”, revela ao The New York Times. “Não têm ninguém que tome conta deles.” À semelhança de outros condutores, Zhang não só não é pago para fazer estes transportes, como paga a própria gasolina, apesar de estar confiante de que, eventualmente, o governo irá reembolsá-lo.
A atitude de Zhang Lei e de todos os outros é extremamente apreciada pelos residentes. Questionado sobre o motivo do seu altruísmo, não tem qualquer problema em assumir: “Aborrecimento”.
“E segundo, para servir as pessoas. Está toda a gente confinada à sua casa, todo o dia, por isso, mais vale contribuir para a sociedade”
O trabalho é exigente, garante o taxista. Existem quatro condutores destinados a cada localidade, e, de acordo com os residentes, nem sempre é fácil conseguir carona. A atividade não é isenta de risco. “Claro que temos medo de ser infectados. As nossas famílias ficam muito preocupadas, não querem que saiamos de casa”, conta.
Zhang vive com os pais, a mulher e os dois filhos – de 3 e 7 anos. A vila onde cresceu, fora de Wuhan, enviou-lhe recentemente uma carta pedindo que não regressasse, dizendo que ele viveu muito perto do local onde o vírus começou.
No fim do dia, assim como os restantes condutores, toma banho, desinfeta a roupa que usa e o carro. Muda de máscara, mas afirma que não são as melhores. Questionado sobre o que o governo pode fazer melhor, não faz qualquer comentário.