SÃO PAULO – A greve nacional dos entregadores de aplicativos entrou nesta terça-feira (1º) no segundo dia com mobilização em ao menos 60 cidades brasileiras. Atos foram registrados em cerca de 20 capitais, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, Belém e Curitiba.
Em São Paulo, epicentro do movimento, entregadores bloquearam vias na região da avenida Paulista e prometeram impedir a saída de pedidos nos principais shoppings.
A paralisação nacional reivindica quatro pontos principais:
- aumento da taxa mínima de R$ 6,50 para R$ 10 por entrega,
- reajuste da taxa por quilômetro de R$ 1,50 para R$ 2,50,
- limite de 3 km para entregas de bicicleta e
- pagamento integral por corrida mesmo em casos de pedidos agrupados.
Nenhuma das demandas foi atendida até o momento pelas plataformas.
As empresas, por sua vez, alegam que mantêm canais de diálogo e que já promoveram aumentos nos últimos anos. O iFood, alvo principal dos protestos, afirmou em nota que “está avaliando” um novo reajuste para 2025 e que, atualmente, 60% dos pedidos são feitos por restaurantes parceiros.
A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que representa empresas como iFood, Uber Flash e 99 Entrega, declarou que respeita o direito de manifestação e apoia a regulação do trabalho via plataformas.
Em São Paulo, cerca de duas mil motos participaram do movimento que seguiu até a sede do iFood, em Osasco. Entregadores denunciaram o modelo de trabalho como “escravidão moderna” e relataram queda nas condições de trabalho.
“Colocamos nosso patrimônio na rua todos os dias e nada aumenta. Combustível sobe, mercado sobe, e pra nós a taxa continua a mesma. O mínimo que pedimos é dignidade”, afirmou Ricardo Macedo, um motofretista presente no ato.
Em diversos estados, consumidores relataram dificuldades para fazer pedidos e atrasos superiores a duas horas. Restaurantes chegaram a suspender temporariamente o atendimento. Mesmo assim, o iFood nega impacto significativo nas operações.
Macedo, de 48 anos, trabalha como entregador de aplicativo há sete anos na cidade de São Paulo. Participante do protesto na capital, ele critica a postura das empresas. “Eles cobram até 30% do restaurante e pagam uma miséria pra gente. Faço duas ou três entregas e recebo como se fosse uma só. Não tem cabimento”, protestou.
Durante a segunda-feira, uma comissão de nove entregadores foi recebida na sede do iFood, em reunião intermediada pela Polícia Militar. A empresa não apresentou nenhuma proposta concreta e proibiu a gravação da conversa.
“Nenhuma das quatro pautas foi atendida. Disseram que iriam repassar à direção, mas sem prazo pra resposta”, disse Ricardo.
Além da remuneração, os entregadores denunciam pressão psicológica, bloqueios injustificados e campanhas que incentivam o individualismo e a concorrência entre colegas. “Tem promoção que te joga pra fora do raio e, se recusar, você é punido. A gente é empurrado pro limite, e quando reage ainda tentam nos dividir”, disse Ricardo.
Nova paralisação está prevista para 2 de maio, apelidada de “feriadão” pelos entregadores. A categoria promete manter a pressão sobre as empresas e cobrar posicionamento efetivo do governo federal, que não se manifestou sobre a greve até o momento. A tentativa de regulamentação iniciada em 2023 fracassou após impasse entre empresas e representantes dos trabalhadores.
BNC Brasil