GRANDE ILHA – O título deste artigo remete à famosa parábola contada por Jesus nos evangelhos, quando é interpelado acerca de quem seria o próximo, que figura na frase “Amarás a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.
Na parábola, o Mestre discorre acerca de um samaritano que encontra um judeu espancado à beira do caminho, já desprezado pelos seus semelhantes. Calha informar, para aqueles que ainda não sabem, que os samaritanos e judeus eram inimigos, pois estes últimos não os viam como seus iguais, havendo uma série de problemas entre esses povos, a exemplo de tantas guerras fratricidas a que ainda hoje assistimos mundo afora. Pois coube àquele samaritano ajudar o homem ferido, num exemplo magistral de solidariedade e bondade.
Essa introdução que fiz se encaixa à perfeição no gesto da técnica de enfermagem Lília de Jesus Bluas ao encontrar, no último dia 15 de junho, o professor Antônio José Teixeira Guerra, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vitima de golpes de faca no braço e no tórax, desferidos por um assaltante, na Lagoa da Jansen.
O professor Antônio Guerra – que é hoje referência nacional e internacional em Geomorfologia – já veio diversas vezes a trabalho ao Maranhão, onde cultiva excelentes relações profissionais e pessoais. Ele veio desta vez com a missão de participar como integrante da banca que avaliaria o Professor Antônio Cordeiro Feitosa, do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (PGCult), na defesa de seu memorial para progressão à carreira de professor titular da UFMA.
Para alegria de sua família e amigos, o professor Antônio Guerra teve alta esta semana, depois de onze dias de internação. No dia fatídico, o professor foi levado para o Socorrão – onde me fiz presente, assim que ele chegou àquele hospital, envidando todos os esforços para que ele fosse rapidamente transferido para o HU UFMA – onde passou inicialmente por um procedimento cirúrgico e agora está em franca recuperação. Destaco ainda a atuação dos médicos: José Armando Fº, José Wanderley e Sebastião Brito para o desfecho bem sucedido daquela intervenção.
Esse episódio, que poderia ter um final trágico, traz uma série de reflexões para nós, além da solidariedade da profissional de saúde que em nenhum momento vacilou de estender a mão a quem dela precisava. Utilizo de empréstimo a expressão cunhada pela filósofa judia Hanah Arendt – a banalidade do mal – aqui em sua faceta mais escancarada. Estamos à mercê de uma série de intempéries assim que saímos de casa todos os dias. No Rio de Janeiro, cidade do Professor Antônio José Teixeira Guerra, na última quinta-feira, os jornais davam conta de que passava de 60 o número de policiais mortos apenas este ano nos confrontos com os bandidos.
No Brasil, e o Maranhão não foge à regra, diariamente somos informados de assaltos, furtos e atos de violência que espantam e indignam a nós, homens e mulheres de bem. A história que narrei, com final feliz, poderia ter um desfecho lamentável. Num mundo em que a violência cresce assustadoramente e que quase nada ou muito pouco se pode fazer para preveni-la, urge a adoção de políticas mais efetivas de combate e repressão ao crime.
Natalino Salgado Filho
BNC Geral