BRASÍLIA – O Banco Central revisou para cima sua estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, passando de 3,2% para 3,4%, segundo o Relatório de Inflação do quarto trimestre, divulgado nesta quinta-feira (19). Caso confirmado, este será o maior avanço econômico desde 2021, quando o PIB cresceu 4,8% impulsionado pela recuperação pós-pandemia.
Isto ocorre apesar da política recessiva do próprio BC, ao manter os juros em patamares insustentáveis para o crédito e o investimento do setor produtivo. A gestão da política monetária justifica esta pressão para reduzir o crescimento do PIB no argumento de que o desemprego está em níveis mínimos, e o consumo e a renda crescente, gerando controvérsia ao sugerir que trabalha para aumentar o desemprego, reduzir a renda e o consumo.
O forte crescimento econômico faz com que o Banco Central foque nos efeitos colaterais, como a pressão inflacionária, embora não haja sinais diretos de que estes fatores estejam ligados. Parte da inflação se comprova sazonal por efeito de questões climáticas, mas os juros têm efeitos profundos e de longo prazo sobre a economia. Atualmente, a taxa Selic está em 12,25% ao ano, mas o BC já sinalizou novos aumentos para o início de 2025, com a taxa podendo atingir 14,25% ao ano.
Cenário econômico atual
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicaram um crescimento de 0,9% no PIB do terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior, resultado que superou as expectativas do mercado financeiro. Segundo o Banco Central, a tendência é de uma aceleração no crescimento econômico no quarto trimestre deste ano.
“Indicadores mensais referentes a outubro sugerem que a produção industrial e as vendas no varejo registraram taxas de variação interanuais superiores ao crescimento do PIB no terceiro trimestre”, destacou o relatório do BC.
Além disso, o investimento em ativo fixo acumulado no ano até outubro foi superior ao registrado em setembro, enquanto o mercado de trabalho continuou a mostrar sinais de recuperação, com a taxa de desemprego atingindo o menor nível da série histórica.
Pressões sobre a inflação
A inflação acumulada de janeiro a novembro foi de 4,29%, segundo o IBGE, e a expectativa do mercado financeiro é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano acima de 4,5%, ultrapassando o teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Entre os fatores que impulsionaram a inflação estão:
- Aquecimento da economia, com maior consumo e queda no desemprego.
- Efeitos climáticos, como secas que impactaram preços de alimentos e energia elétrica.
- Alta nos gastos públicos, que aumentou a demanda agregada e gerou preocupações nos mercados.
Nos últimos quatro anos, esta será a terceira vez que a meta de inflação será descumprida — o que já ocorreu em 2021, 2022 e, agora, em 2024.
A decisão de aumentar os juros é justificada por um suposto esforço para conter a alta dos preços, mas também representa um desafio para a atividade econômica, pois juros mais altos tendem a encarecer o crédito e reduzir investimentos. Da mesma forma, que as intenções da gestão do BC são questionadas por aumentar os custos do serviço da dívida e, portanto, favorecer a especulação financeira.
Perspectivas e preocupações
O desempenho econômico acima do esperado tem gerado otimismo em alguns setores, mas também preocupa analistas, principalmente em relação à sustentabilidade do crescimento. O aumento dos gastos públicos, embora tenha impulsionado o PIB, traria riscos fiscais e agravaria a inflação.
A divulgação oficial do PIB de 2024 pelo IBGE ocorrerá apenas em 7 de março de 2025, quando será possível confirmar o impacto completo das políticas econômicas e as dinâmicas que moldaram o desempenho do país.
Impulso industrial
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro apresentou resultados positivos no terceiro trimestre de 2024, com uma contribuição significativa da indústria. O destaque ficou para o segmento de transformação, responsável pela produção de bens como máquinas, equipamentos, automóveis e eletrodomésticos. Esse setor, que transforma matérias-primas em produtos prontos para o consumidor, mostrou sinais de recuperação após anos de desempenho tímido.
De acordo com dados divulgados pelo IBGE, a indústria de transformação cresceu 2% no segundo trimestre e 1,3% no terceiro trimestre deste ano. Esses resultados representam uma melhora substancial em comparação ao mesmo período de 2023, quando o setor enfrentava retração. Entre os principais fatores que impulsionaram o desempenho estão o aquecimento do mercado de trabalho e o aumento da renda das famílias, elementos fundamentais para a retomada do consumo.
Segundo tem explicado economistas da Fiesp, a confiança dos empresários no setor industrial atingiu níveis elevados, o que favoreceu o crescimento. A utilização da capacidade instalada das fábricas aumentou, reforçando a recuperação da indústria.
Investimentos impulsionam crescimento sustentável
Outro fator que merece destaque é a Formação Bruta de Capital Fixo, indicador que mede os investimentos em bens de capital, como máquinas e equipamentos. Esse investimento registrou crescimento de 2,1% no terceiro trimestre, confirmando uma tendência positiva iniciada no final de 2023. Esse indicador é apontado como crucial para o crescimento econômico sustentável, garantindo maior capacidade produtiva no futuro.
Além disso, políticas públicas voltadas ao setor industrial, como o plano Mais Produção do BNDES e incentivos fiscais, desempenharam um papel importante na retomada dos investimentos, segundo a Fiesp. O setor de bens de consumo duráveis, que inclui eletrodomésticos e automóveis, foi um dos mais beneficiados pela expansão da renda das famílias.
Desafios e perspectivas para 2025
Apesar do bom desempenho, desafios ainda pairam sobre a indústria. O câmbio valorizado tem impacto nos custos dos insumos e pode dificultar a competitividade de produtos nacionais no mercado internacional. Além disso, a inflação e as restrições financeiras impostas pela política monetária apertada preocupam empresários quanto ao futuro próximo.
Por outro lado, os economistas projetam que setores como o agro, que teve um desempenho mais modesto em 2024, podem complementar o crescimento da indústria em 2025. Além disso, iniciativas voltadas à inovação tecnológica, como o fundo Clima, prometem impulsionar o setor industrial a longo prazo, segundo a própria entidade patronal.
Um novo ciclo de recuperação
Após anos de encolhimento na proporção do PIB, a indústria brasileira começa a dar sinais de recuperação. O avanço registrado em 2024 representa mais do que um crescimento econômico: é um reflexo de políticas acertadas e da resiliência do setor em buscar competitividade e eficiência. A expectativa é que os investimentos realizados neste ano tragam resultados ainda mais sólidos no médio e longo prazo, consolidando o papel da indústria na economia brasileira.
Enquanto isso, consumidores e empresários esperam que o cenário de 2025 seja tão promissor quanto o que foi visto até agora.
BNC Economia