SÃO PAULO – Depois de fazer inúmeras descobertas para além da órbita de Netuno, o astrônomo Scott Sheppard, doInstituto Carnegie para Ciência, voltou aos noticiários com o anúncio da existência de 12 novas luas ao redor de Júpiter. O comunicado foi feito hoje (17 de julho) pela União Astronômica Internacional.
Para fazer a descoberta, Sheppard e sua equipe usaram o telescópio da Dark Energy Camera (DECam), um instrumento extremamente sensível construído no Observatório de Cerro Tololo, Chile.
Acostumados com o equipamento desde 2012, quando começaram a pesquisar objetos cósmicos para além de Netuno, os pesquisadores resolveram inovar e não focar somente nos astros longínquos, mas aproveitar para também detectar eventos mais próximos, como os de Júpiter, por exemplo.
“Nós só queríamos ser os mais eficientes possíveis”, explica Sheppard em entrevista à revista Wired. Com anos de experiência, Sheppard sabia que o telescópio da DECam era capaz de encontrar objetos menores e mais escuros, ao contrário de outros instrumentos que já haviam vasculhado aquela parte do espaço.
Desde o início do ano passado, os astrônomos encontraram cerca de duas dúzias de astros que pareceriam se comportar como satélites. Ou seja, tinham uma órbita previsível em torno de Júpiter.
Mas só em maio deste ano que veio confirmação: 12 deles realmente tem uma órbita regular e agora podem ser chamados de luas de Júpiter — que agora esbanja no céu 79 satélites conhecidos.
Luas de Júpiter
Uma das formas de entender a origem e de classificar as luas de Júpiter é por meio da sua distância em relação ao planeta. As mais próximas são também as maiores e se chamam Luas de Galileu. Bem longe delas, a cerca de 10 milhões de quilômetros, ficam as luas “prógradas”, que se movimentam na mesma direção em que o planeta rotaciona. A uma distância duas vezes maior do que as prógradas, podemos encontrar os satélites menores e retrógrados, que orbitam em direção oposta à rotação de Júpiter.
O porquê da existência dessas três regiões distintas de satélites ao redor de Júpiter ainda é desconhecido, mas os astrônomos têm algumas hipóteses. Boa parte deles acredita que elas possam indicar que, há milhões de anos, um trio de corpos celestes se aproximavam do planeta e, por motivos também desconhecidos, foram desintegrados e formaram as camadas observadas hoje.
A hipóteses mais aceita é a de que esses objetos tenham colidido com um quarto corpo de identidade incerta (poderia ter sido um asteróide ou um cometa, por exemplo). Outra teoria é a de que a colisão tenha ocorrido entre satélites, mas ela é um tanto desacreditada, já que a distância entre luas prógradas e retrógradas é grande demais para que houvesse uma colisão.
É aí que entra o pulo do gato: os astrônomos descobriram duas luas prógradas, nove retrógradas e uma lua prógrada que cruza o caminho da região retrógrada. “Ela está basicamente dirigindo pela estrada na direção errada”, afirma Sheppard. “E isso torna a situação muito instável.”
A lua “barbeira” foi batizada pelos astrônomos de Valetudo, nome da bisneta do deus romano Júpiter. Ela é o menor e mais fraco satélite de Júpiter já encontrado, medindo menos de um quilômetro de largura. Para os astrônomos, originalmente ela tinha um tamanho bem maior, mas, por ter colidido com outros corpos celestes na região retrógrada, foi reduzida a este tamanho.
Com mais 12 objetos descobertos no currículo, Sheppard afirma que o próximo passo do grupo é descobrir a composição das novas luas. Elas, no entanto, são difíceis de serem observadas e uma viagem até Júpiter para analisá-las está fora de cogitação. “Isso provavelmente nunca vai acontecer”, diz o astrônomo. Resta esperar que alguma das próximas missões ao maior planeta do Sistema Solar cruze o inesperado caminho de Valetudo.
Com informações da Wired.
BNC Geral