GRANDE ILHA – 2018 parecia um ano de novos ares para a Confederação Brasileira de Futebol. Eleições que finalmente colocariam juventude no poder, ex-jogadores assumindo cargos diretivos e promessas de modernização do futebol brasileiro.Três anos depois, temos mais um presidente deposto, desta vez por mau comportamento, e um vácuo no poder pela falta de perspectiva. Aparentemente preocupada com os rumos da entidade, a Justiça radicalizou – no caso, a Justiça do Rio de Janeiro -, anunciou a anulação da eleição de Rogério Caboclo, e nomeou, de forma totalmente arbitrária, os presidentes do Flamengo, Rodolfo Landim, e da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, interventores da entidade.
A medida causou espanto. Não que a CBF não merecesse algum tipo de intervenção, mas a forma rápida e secreta como isso se deu tem tudo para colocar mais álcool do que água na fogueira. A Lei Pelé proíbe que presidentes de clubes sejam também presidentes de confederações desportivas. Ou seja, Landim terá que deixar a presidência do Flamengo ou a lei será descumprida.Além do mais, os dois nomes escolhidos pela Justiça têm seu telhado de vidro. Landim tem sido alvo de muitas críticas na condução do Flamengo durante a pandemia, defendendo volta do público aos estádios em um país de menos de 17% de imunizados, e se mostrando pouco sensível ao drama das famílias da tragédia do Ninho do Urubu, de responsabilidade total do clube que ele preside.Não é só.
Seu nome está presente em denúncia do Ministério Público Federal por gestão fraudulenta, prejuízo a fundos de pensão e remessa de dinheiro ilegal ao exterior, segundo a coluna do jornalista Juca Kfouri, na casa de 100 milhões de reais.Já Reinaldo Carneiro Bastos é um antigo aliado da CBF, a ponto de ser remunerado em mais de 1 milhão de reais como consultor. Sua nomeação é tudo, menos rompimento com o atual status quo da Confederação.Outro detalhe preocupante: a primeira decisão da Justiça autorizava os interventores apenas a organizar a casa para convocar novas eleições. Pois quarta-feira passada, definiu-se que a dupla terá poder também para demitir membros da diretoria e indicar, sem eleição, um novo presidente interino.
A CBF está recorrendo da medida, não para salvar a pele de Caboclo, mas para não perder o poder de definir seu próprio rumo. A entidade tem vários vice-presidentes e o apoio quase irrestrito de todas as Federações Estaduais.Independentemente das manobras atuais, tanto da Justiça quanto da Confederação, as perguntas que ficam são sobre o futuro: até que ponto os interventores acertarão em suas decisões? Quem são os candidatos disponíveis e dispostos a estancar a sangria quase eterna da entidade? É possível sonhar com um calendário racional que respeite as datas FIFA e evite que os times brasileiros joguem a cada dois ou três dias durante boa parte da temporada?
BNC Esportes