SÃO PAULO – O Brasil registrou 45.747 mortes violentas em 2023, o equivalente a 125 assassinatos por dia. Embora o número ainda seja alarmante, representa uma redução de 1,4% em relação a 2022, quando foram contabilizadas 46.409 vítimas. Os dados fazem parte do Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Segundo o levantamento, a taxa nacional de homicídios caiu para 21,2 por 100 mil habitantes, a menor da série histórica iniciada em 2013. No pico, em 2017, o Brasil registrou 65.602 assassinatos e uma taxa de 31,8 por 100 mil habitantes. De lá para cá, a redução foi de aproximadamente 30% em números absolutos e 33% na taxa proporcional.
Para os pesquisadores, dois fatores principais ajudam a explicar essa tendência de queda: o envelhecimento da população e uma mudança silenciosa nas estratégias de segurança pública.
“Apesar do número exorbitante de mortes, trata-se da menor taxa de homicídios que o Brasil atingiu nos últimos 31 anos”, afirma Daniel Cerqueira, coordenador da pesquisa no Ipea.
Segundo ele, a redução está ligada à menor proporção de jovens — grupo mais vulnerável tanto como vítima quanto como autor de homicídios — e ao avanço de uma “revolução invisível” na forma como a segurança pública é conduzida, com mais inteligência, planejamento e integração entre dados e ações.
“A lógica está mudando: sai a polícia da brutalidade, entra a polícia da inteligência. É a ciência sendo aplicada à segurança pública”, complementa.
71,6% das mortes foram por arma de fogo
Do total de homicídios em 2023, 32.749 foram cometidos com arma de fogo, o que representa 71,6% das mortes violentas. Embora esse número seja inferior ao de 2017 (49 mil), a arma de fogo continua sendo o principal instrumento letal.
A taxa nacional de mortes por armas de fogo foi de 15,2 por 100 mil habitantes, com destaque negativo para Amapá (48,3), Bahia (36,6) e Pernambuco (30,8). Em contrapartida, os estados com menores taxas foram São Paulo (3,4), Santa Catarina (4,4) e Distrito Federal (5,3).
O Atlas aponta fragilidades na política de controle de armas: “quanto maior a circulação e prevalência de armas de fogo, maior tende a ser a taxa de homicídios”, alerta o relatório.
Diferenças regionais: extremos entre estados
Apesar da queda geral, a violência homicida continua fortemente concentrada em determinadas regiões do país. Em 2023, 20 das 27 unidades da federação apresentaram taxas de homicídio acima da média nacional.
O Amapá lidera o ranking, com 57,4 homicídios por 100 mil habitantes — quase o triplo da média nacional. Também aparecem no topo Bahia (43,9) e Pernambuco (38). Em contraste, as menores taxas foram registradas em São Paulo (6,4), Santa Catarina (8,8) e Distrito Federal (11).
Ao longo da última década, 11 estados conseguiram reduzir suas taxas de forma contínua, segundo o estudo: São Paulo, Santa Catarina, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Pará e Sergipe.
O Amapá, por outro lado, teve um aumento de 88,2% nos homicídios em 11 anos, contrariando a tendência nacional. O Atlas aponta falhas estruturais nas políticas públicas e avanço do crime organizado como principais causas.
Homicídios ocultos: a violência fora das estatísticas
Além dos dados oficiais, o Atlas estima que 51.608 homicídios deixaram de ser registrados entre 2013 e 2023 — uma média de 4.692 por ano. Esses casos, classificados como “homicídios ocultos”, são mortes violentas mal identificadas ou subnotificadas nos registros oficiais.
Com a inclusão dessas estimativas, a taxa real de homicídios em 2023 sobe de 21,2 para 23 por 100 mil habitantes.
O caso mais emblemático é o de São Paulo. Em 2023, o estado teria deixado de contabilizar 2.277 assassinatos. Com isso, a taxa estimada sobe de 6,4 para 11,2 por 100 mil habitantes, tirando São Paulo do posto de estado menos violento do país. O novo líder passa a ser Santa Catarina, com 9 homicídios estimados por 100 mil.
“O registro inadequado compromete a formulação de políticas públicas e mascara a real dimensão da violência”, advertem os autores.
Panorama completo (2013–2023)
Número absoluto de homicídios:
- 2013: 57.396
- 2017 (pico): 65.602
- 2019 (menor): 45.503
- 2023: 45.747
Taxa de homicídios por 100 mil habitantes:
- 2013: 28,8
- 2017 (pico): 31,8
- 2023: 21,2
- 2023 (com ocultos): 23,0
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