
BRASÍLIA – O deputado Sóstenes Cavalcante (PL‑RJ), braço direito do pastor Silas Malafaia e figura de proa da bancada evangélica, acumulou reveses em série nos últimos embates no Congresso. Na chamada PEC da Bandidagem, foi um das principais vozes da defesa do texto que ampliava blindagens para parlamentares investigados — proposta que naufragou diante da pressão social. Na sequência, tentou redesenhar a isenção do Imposto de Renda (IR) para descaracterizar o projeto do governo: apresentou uma emenda para elevar a faixa de isenção a R$ 10 mil e outra para derrubar a compensação pela tributação mínima de altas rendas. As duas foram rechaçadas. A anistia, sua principal bandeira, patina na Câmara.
Após a aprovação unânime da isenção até R$ 5 mil, Sóstenes tentou maquiar a derrota e classificou a medida como “um troco, muito abaixo do que a população precisa” e reafirmou que “o nosso partido é sempre contra o aumento de impostos”. As frases sintetizam a estratégia: desqualificar o acordo que viabilizou o benefício e, ao mesmo tempo, empurrar a discussão para um patamar fiscalmente insustentável.
No papel, sua Emenda de Plenário defendeu textual e explicitamente a isenção de IR “para os contribuintes que recebem até R$ 10.000 por mês, a partir do mês de janeiro de 2025”, ancorando o pedido na “defasagem” da tabela, que segundo o próprio deputado “chega a 167,02% entre 1996 e 2024”.

Sóstenes Cavalcante à frente do motim na Câmara
Politicamente, o efeito pretendido era duplo: inflar o custo da renúncia a um nível impraticável e, em paralelo, extinguir a fonte de custeio ao tentar derrubar a tributação mínima dos super‑ricos. O conjunto das propostas funcionava como um trava‑mato orçamentário para impedir a execução da política aprovada.
No plenário, a leitura foi cristalina: a Câmara aprovou a isenção por unanimidade, enquanto as emendas de Sóstenes perderam fôlego ainda na triagem. Fora do microfone, líderes disseram que a combinação “R$ 10 mil + sem compensação” era, além de fiscalmente temerária, um movimento de obstaculização com roupagem de defesa do contribuinte. Em termos políticos, a manobra isolou o deputado no próprio campo, reduziu sua capacidade de influência e fortaleceu o acordo que sustentou a votação.
A sucessão de derrotas se soma ao impasse recorrente da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro — pauta que Sóstenes ajuda a articular e que, pela enésima vez no ano, entrou em hiato sem horizonte definido. O vaivém reforça o diagnóstico de desgaste: o parlamentar tensiona, ocupa holofotes, mas não converte suas bandeiras em resultados.
Assim, na PEC da Bandidagem, na isenção e na anistia, o saldo é inequívoco: o líder do PL saiu menor. A proximidade com Malafaia, que pesa no discurso público, não se traduziu em votos nem em capacidade de costura. Prevaleceu o consenso do plenário; caiu a aposta na inviabilização. E o resultado político, para Sóstenes, foi de enfraquecimento e isolamento.
Uma imagem bem diferente do parlamentar que foi um dos principais incentivadores da algazarra que tomou conta da Mesa Diretora da Câmara e que parecia liderar os amotinados em defesa da anistia para o ex‑presidente Jair Bolsonaro. Nesse momento, esse objetivo parece inalcançável.
BNC Política