RIO GRANDE DO SUL – A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UERGS) de Sananduva compartilhou nesta semana, em seu Instagram oficial, a palestra chamada “A importância da escravidão na economia mundial.” A postagem causou péssima repercussão diante do título notadamente racista, o que levou a instituição excluir o informativo e soltar uma nota de esclarecimento.
A palestra estava sendo divulgada pelo curso de Administração da universidade e seria ministrada pelo médico Lenio Carlos Dagnoluzzo Tragnago, com a mediação do Dr.º Profº Oberdan Teles da Silva, e tinha previsão para acontecer no dia 30 de maio, às 19h, mas foi cancelada depois que o assunto viralizou nas redes.
A UERGS postou, em seu perfil, uma nota de esclarecimento, assinada pelo reitor Fernando Guaragna Martins, repudiando o racismo, a escravidão e dizendo que não compactua com qualquer atitude que venha a ferir os Direitos Humanos, além de pedir desculpas àqueles que foram atingidos direta e indiretamente:
“Logo que a divulgação foi publicada, a Unidade Universitária proponente foi notificada e retirou os materiais do ar, informando que o título foi equivocado e que a intenção da palestra é “demonstrar os horrores e abusos da escravidão no mundo e o quanto essa ação nefasta fora utilizada na sociedade. O título realmente ficou inadequado e não demonstra o teor que será abordado. Assim estruturou-se um novo título: ‘A triste história da escravidão no mundo”, diz o comunicado.
Confira o posicionamento da universidade na íntegra
Repercussão
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) se pronunciou sobre o caso em seu Twitter e alegou que a universidade precisa ser responsabilizada.
A deputada estadual Laura Sinto (PT-RS), por sua vez, repudiou a naturalização do trabalho escravo e aconselhou a instituição a não tratar o caso como “mero equívoco”, pois o papel social da universidade é muito importante para o estado.
Segundo dados da pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil” de 2020, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), 56,1% da população brasileira é autodeclarada preta e parda. Nas instituições de ensino superior, essa taxa é de 37,1%. Quando comparado o ensino privado e o ensino público, constata-se que os estudantes negros são 41% menos presentes nas instituições públicas do que nas faculdades pagas. Conviver com a desigualdade escancarada e sofrer racismo cotidianamente contribui ainda mais para a inacessibilidade da população negra a esses ambientes.
Vídeo e entrevista do médico palestrante sobre cloroquina vêm à tona
Internautas vêm questionando a ética de Lenio Tragnago, que iria palestrar no evento, ao resgataram um vídeo publicado após ele contrair Covid-19 em 2020, durante a pandemia, onde ele afirma ter utilizado ivermectina e cloroquina durante o contágio e recomenda o “tratamento” para os telespectadores.
Tragnago também deu entrevista à “Tua Rádio Cacique”, onde diz novamente que utilizou ambos os medicamentos para tratamento do coronavírus.
Ele comenta que a hidroxicloroquina é utilizada em tratamento de doenças reumáticas e, devido ao fato da SARS-CoV-2, segundo ele, ter semelhança com alguns dos sintomas destas doenças, seu ponto de vista é de que o remédio deveria fazer algum efeito nas reações inflamatórias.
A comunidade científica mundial já comprovou. com base em inúmeros estudos, que esses remédios não possuem eficácia contra a Covid-19.
BNC Educação