GRANDE ILHA – A ampliação de conhecimento no que diz respeito às metodologias aplicáveis a estudos botânicos no Maranhão, uma maior visibilidade ao trabalho realizado pelo Herbário do Maranhão (MAR), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e a
repatriação de mais de 6.500 espécies maranhenses. Esses são alguns dos resultados do projeto que a professora Monielle Alencar Machado desenvolveu durante o estágio internacional realizado no The New York Botanical Garden, nos Estados Unidos.
Estudar a flora maranhense ficou mais fácil a partir do projeto que teve a coordenação do professor doutor Eduardo Almeida Jr.
O estágio financiado, pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) por meio do edital Cidadão do
Mundo, também resultou em um acordo de cooperação internacional entre os herbários possibilitando, ainda, a ida de outros alunos do Herbário Mar aos Estados Unidos para estudar outras áreas da botânica.
As articulações realizadas durante o estágio também resultaram na projeção mundial do Herbário MAR através do Index Herbarium – que é o reconhecimento/registro internacional do herbário – que foi alcançado com o estágio.
Os herbários são coleções de plantas secas que documentam a diversidade vegetal de determinada região ou país. Inaugurado oficialmente em 2013, o Herbário do Maranhão (MAR), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), abriga importantes coleções de planta secas de espécies maranhenses. Já reconhecido nacionalmente, o espaço ganhou visibilidade nacional a partir do projeto da professora Monielle Machado.
“Os dados que foram levantados sobre o status quantitativo e representatividade das espécies do Maranhão, no William & Lynda Steere Herbarium, deixam claro que ainda temos muito que caminhar em nossas pesquisas”, disse Monielle Machado. “Contudo é através de mecanismos e oportunidades como o Programa Cidadão do Mundo, que estamos iniciando essa mudança e gerando a possibilidade de qualificação profissional para os pesquisadores, desenvolvimento científico através de projetos que visem a proteção e conservação da biodiversidade maranhense, tão pouco conhecida”, prosseguiu.
O estágio foi de extrema importância para o Maranhão, levando em consideração que a aluna Monielle Alencar Machado prossegue seus estudos com a flora maranhense e trouxe metodologias que possibilitam conservar e mitigar processos de perda e degradação da flora do estado. Também teve importante papel na ampliação dos conhecimentos técnicos no Laboratório de Estudos Botânicos.
Professora de duas pós-graduações on-line de “Manejo e Conservação de Animais Silvestres” e de “Manejo e Controle de Espécie Bioinvasouras” pela Unileia – Universidade Online que atende Brasil e Portugal – e bolsista da Capes pelo programa Ciência Dez, Monielle Machado disse que a experiência foi enriquecedora tanto profissionalmente como para a sua vida pessoal. “Foi um projeto de vida que não teria condições de colocar em prática sem o apoio da FAPEMA”, disse. “Ele também motivou muitos outros membros da nossa equipe de colocar em prática seus
projetos”, ressaltou.
Repatriação
Durante o período do estágio, Monielle Machado teve a oportunidade de conhecer o projeto Reflora, que é um projeto nacional que já faz um trabalho de repatriação das espécies. “Mas como eles tinham poucos pesquisadores, as espécies da repatriação da parte do Maranhão, do Norte e Nordeste, estava meio esquecida e o trabalho estava mais focado nas espécies do Sul e Sudeste. Ai eu me prontifiquei a auxiliar para fazer todas os registros e repatriação das espécies dessa região”, contou a pesquisadora.
A repatriação é o reconhecimento dos primeiros registros botânicos para o estado. O Reflora é um projeto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que trabalha para o Brasil inteiro. Monielle constatou que as primeiras plantas que foram coletadas no Maranhão não estão nos herbários do Maranhão. Estão no Rio de Janeiro, em Brasília ou espalhados pelo mundo. Segundo ela, New York é um dos pontos que mais tem plantas que foram coletadas no Maranhão lá pelos anos 40, 50, 60. Os primeiros registros são dos anos 80 com o trabalho da professora Terezinha Rêgo, que direcionou sua pesquisa para plantas medicinais.
O trabalho de repatriação das espécies começou com um estudo bibliográfico para saber quais os primeiros registros de espécies que foram para o Jardim Botânico e as razões desse fato. Historicamente, segundo Monielle, alguns pesquisadores da Europa vieram coletar essas espécies nas terras brasileiras e o Maranhão, já na época do descobrimento, era um dos lugares explorados por esses estudiosos que estavam fazendo inventários botânicos para seus estudos pessoais.
“No Jardim Botânico encontrei espécies do século XVII que eram daqui do Maranhão, que o registro era daqui do Maranhão”, explicou. “Não é uma repatriação que você vai trazer de volta as espécies para cá; é uma repatriação digital, que fica no banco on-line o Reflora, um projeto nacional, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que trabalha para o Brasil inteiro”, assinalou. “Aí você clica no mapa da região e vai ver todas as espécies que foram repatriadas, devolvidas, mas digitalmente”, disse. “Isso nos auxilia nesses projetos de conservação, porque a gente precisa entender o que tinha nessas regiões, aqui no Maranhão, até para sugerir como que a gente vai auxiliar nesses projetos de reflorestamento e em outros projetos conservacionistas, porque quando a gente não conhece o que a gente tem é muito difícil sugerir qualquer coisa que seja voltada para a conservação das espécies” explicou a pesquisadora.
Entre as espécies repatriadas muitas delas são da família da Fabaceae. A identificação das espécies, segundo relatou a professora, é muito difícil porque na época os naturalistas registravam somente as características e só depois surgiam as identificações. “Antigamente os pesquisadores coletavam esses materiais mas como não tinha onde guardar eles levavam”, pontuou. “O que me chamou mais atenção foi que as coletas no Maranhão não são recentes; tinha naturalista da época do imperador, que já havia feito coletadas aqui” contou.
O trabalho deu visibilidade ao Maranhão como estado que estuda botânica. “Quando cheguei lá no Jardim Botânico, havia muitos pesquisadores brasileiros, porque eles estudam muito a Amazônia e a região da Mata Atlântica da Bahia”, ressaltou Monielle.
”O que vê lá são muitos pesquisadores do Sul e Sudeste, quase ninguém do Maranhão, do Nordeste”, complementou. “Todo mundo tinha muita curiosidade em saber o que tinha de botânica aqui, uma região ecotonal de Amazônia, de Cerrado e que é pouco estudado em relação a outras regiões do Brasil”, destacou. “Então chegando lá no Jardim Botânico foi uma oportunidade de mostrar que a gente tem um herbário, tem pesquisadores e qualificação suficiente para estarmos dentro daquele ambiente e isso possibilitou a ida de outros alunos que atuam no herbário para Jardim Botânico”, prosseguiu Monielle Machado.
Registro internacional
O coordenador do projeto, Eduardo Almeida Jr, explicou que quando se monta um herbário, um acervo de plantas secas que são as exsicatas, é preciso a obtenção do registro das redes ou associações que trabalham com essa atividade. “Aqui no Brasil se tem a Rede Brasileira de Herbários e para um herbário ser oficializado é necessário cumprir algumas regras, mandar documentação para que a coleção, o acervo seja reconhecido como herbário para ser registrado juntamente com a instituição e ser um depositário, um local onde você tem segurança daquelas plantas que estão depositadas”, explicou.
“Como o tempo, a rede de herbários do Brasil estimula que os herbários, conforme vão crescendo, a se adequarem às regras internacionais para ter o registro internacional, o index herbariorio do New York botânico al Garden. O registro é importante no sentido de que outros pesquisadores têm a segurança de vir aqui e saber que o Hérbario Mar da UFMAé reconhecido nacionalmente e internacionalmente para fazer estudos”, concluiu Eduardo Jr.
Fonte: Revista Inovação Fapema
BNC Educação