Polícia Federal abre inquérito para apurar morte de cacique no Amapá

AMAPÁ – A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar a morte do cacique Emyra Wajãpi da terra Waiãpi, em comunidade indígena localizada na cercania da cidade de Pedra Branca do Amapari, no Amapá. A Polícia Militar encontrou a vítima com marcas de perfurações pelo corpo. Informações preliminares indicam que o crime foi cometido por um grupo de 50 garimpeiros, que invadiu uma aldeia Wajãpi, conforme revelou com exclusividade o Congresso em Foco. O Ministério Público Federal no Amapá também investiga as circunstâncias da morte e da invasão.

O Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina) informa que os ataques começaram na segunda-feira (22), com a morte “de forma violenta” do cacique em aldeia próxima à comunidade Mariry. “A morte não foi testemunhada por nenhum Wajãpi e só foi percebida e divulgada para todas as aldeias na manhã do dia seguinte”, relatou.

Na sexta-feira (26), os conflitos pioraram, segundo o conselho. “À noite, os invasores entraram na aldeia e se instalaram em uma das casas, ameaçando os moradores. No dia seguinte, os moradores do Yvytotõ fugiram com medo para outra aldeia na mesma região (aldeia Mariry)”, acrescentou.

Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) mostrou preocupação com a invasão. “Solicitamos a devida diligência do Estado brasileiro para proteger e prevenir possíveis violações de seus direitos humanos”, disse em uma rede social.

No primeiro momento, uma equipe da Fundação Nacional do Índio (Funai) atribuiu a morte do líder indígena a um afogamento causado por ingestão de uma bebida tradicional, durante uma cerimônia. Neste sábado, o órgão descartou essa possibilidade e confirmou que a causa da morte de Emyra foi a invasão de garimpeiros. “Com base nas informações coletadas pela equipe em campo, podemos concluir que a presença de invasores é real e que o clima de tensão e exaltação na região é alto”, relatou a Funai.

Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) pediu respeito ao presidente Jair Bolsonaro. “O Cimi exige que o presidente Bolsonaro respeite a Constituição Brasileira e pare imediatamente de fazer discursos preconceituosos, racistas e atentatórios contra os povos originários e seus direitos em nosso país”, disse.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu ao governo que adote as medidas administrativas e judiciais necessárias para “assegurar a integridade física dos integrantes do Povo Indígena Waiãpi” e que sejam apuradas a morte do cacique Emyra Waiãpi e a invasão dos garimpeiros.

Íntegra da nota do CIMI

O Cimi recebe com imensa preocupação e pesar as notícias de ataque de garimpeiros e assassinato de uma liderança do povo Wajãpi, no estado do Amapá. Os discursos de ódio e agressão do presidente Bolsonaro e demais representantes de seu governo servem de combustível e estimulam a invasão, o esbulho territorial e ações violentas contra os povos indígenas em nosso país.

Esperamos que os órgãos e autoridades públicas tomem medidas urgentes, estruturantes e isentas politicamente para identificar e punir, na forma da lei, os responsáveis pelo ataque aos Wajãpi. Esperamos também que o governo Bolsonaro adote medidas amplas de combate à invasão e esbulho possessório das terras indígenas no país.

Por fim, o Cimi exige que o presidente Bolsonaro respeite a Constituição Brasileira e pare imediatamente de fazer discursos preconceituosos, racistas e atentatórios contra os povos originários e seus direitos em nosso país.

Respeite os povos indígenas, presidente Bolsonaro.

Conselho Indigenista Missionário-Cimi

Brasília, 28 de julho de 2019

Nota do Conselho das Aldeias Wajãpi

Nós do Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina queremos divulgar as informações que temos até agora sobre a invasão da Terra Indígena Wajãpi.

2a feira, dia 22/07, no final da tarde, o chefe Emyra Wajãpi foi morto de forma violenta na região da sua aldeia Waseity, próxima à aldeia Mariry. A morte não foi testemunhada por nenhum Wajãpi e só foi percebida e divulgada para todas as aldeias na manhã do dia seguinte (3a feira, dia 23). Nos dias seguintes, parentes examinaram o local e encontraram rastros e outros sinais de que a morte foi causada por pessoas não-indígenas, de fora da Terra Indígena.

6a feira, dia 26, os Wajãpi da aldeia Yvytotõ, que fica na mesma região, encontraram um grupo de não-índios armados nos arredores da aldeia e avisaram as demais aldeias pelo rádio. À noite, os invasores entraram na aldeia e se instalaram em uma das casas, ameaçando os moradores. No dia seguinte, os moradores do Yvytotõ fugiram com medo para outra aldeia na mesma região (aldeia Mariry). No dia 26 à noite nós informamos a Funai e o MPF sobre a invasão e pedimos para a PF ser acionada. Na madrugada de sexta para sábado, moradores da aldeia Karapijuty avistaram um invasor perto de sua aldeia.

No dia 27, sábado, nós começamos a divulgar a notícia para nossos aliados, na tentativa de apressar a vinda da Polícia Federal. Um grupo de guerreiros wajãpi de outras regiões da Terra Indígena foi até a região do Mariry para dar apoio aos moradores de lá enquanto a Polícia Federal não chegasse. No dia 27 à tarde, representantes da Funai chegaram à TIW e foram até a aldeia Jakare entrevistar parentes do chefe morto, que se deslocaram até lá. Os representantes da Funai voltaram para Macapá para acionar a Polícia Federal. Os guerreiros wajãpi ficaram de guarda próximo ao local onde os invasores se encontram e nas aldeias que ficam na rota de saída da Terra Indígena. Durante a noite, foram ouvidos tiros na região da aldeia Jakare, junto à BR 210, onde não havia nenhum Wajãpi.

No dia 28 pela manhã um grupo de policiais federais e do BOPE chegou à TIW e se dirigiu ao local para prender os invasores.

Isso é o que sabemos até agora. Quando tivermos mais informações faremos outro documento para divulgação.

Fonte: Congresso em Foco

BNC Polícia

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