(…) Meu verbo amar tem pouso firme e certo: por mais longe que eu vá, em rumo incerto, se eu deixo São Luís do Maranhão, uma enorme tristeza me desterra e domina; se insisto noutra terra: — meu verbo amar só vive no meu Chão! (Meu verbo amar, poesia de Waldemiro Viana)
E eis que agosto chega, e Waldemiro Viana parte, deixando, entre passos e palavras, uma profícua vida de dedicação à família, aos amigos, a esta terra. Todos nós, que devotamos a arte e a poesia, sentimo-nos órfãos no momento de sua despedida. O cenário literário neste estado sofre uma perda irreparável.
Membro de diversas academias de letras espalhadas pelo Maranhão — inclusa nossa AML, onde ocupava a cadeira de número 2 —, Waldemiro guardava um traço característico comigo: ambos descendemos da baixada maranhense, de onde trouxemos memórias afetivas e a paixão irremediável pelos pores do sol nos vastos campos de nossa sagrada terra. Embora ele tenha nascido em São Luís, suas origens remontam a São Bento, onde sua família fincou laços e ali se irmanou com o povo, a cultura e a história da cidade. São Luís, porém, foi berço do poeta, a musa para seu canto, a tela para seu encanto. Decantou esta terra em seus versos, tomou-lhe por empréstimo diversos cenários de suas histórias.
Waldemiro tinha o dom daqueles que, como Drummond, conseguem ver poesia em pedras. Da concretude, com mãos hábeis e olhar arguto, emergia a leveza das frases, a sinfonia das letras. Do cotidiano por muitos enxergado com as lentes cinzentas do costume, dele se afastava a pena do escritor: histórias curiosas, casos pitorescos e o enquadramento de temas que nos amainava o tédio das horas. Por muito tempo, acompanhei suas crônicas na coluna Sacada, de O Imparcial.
Recordo-me de um episódio, em 2015, quando, na condição de Reitor da Universidade Federal do Maranhão, tive a honra de protagonizar uma bem-sucedida parceria com a Academia Maranhense de Letras, que redundou no lançamento de cinco obras publicadas pela Editora da Universidade Federal do Maranhão (Edufma), numa solenidade que celebrou o Dia Nacional da Língua Portuguesa. Entre as obras, A Vez da Caça, de Waldemiro, uma história dotada de notas de realismo fantástico.
Memória, amor e o resto onde estarão? — pergunta Cecília Meireles, em “Despedida”. A perda de Waldemiro é dor sentida por todos nós, seus amigos, confrades, e ainda mais por sua família. Sua devoção aos cargos que ocupou — sempre no papel de guardião da cultura deste estado —, seus escritos e suas realizações são construção eterna: legado que o tempo não pode apagar.